Lançado no dia 17, Isabella: O Caso Nardoni, novo “true crime” da Netflix, busca, a partir de imagens de cobertura e depoimentos inéditos, detalhar os acontecimentos de 25 de março de 2008. Foi o dia em que Isabella, de 5 anos, foi agredida e depois jogada da janela do 6º andar do prédio onde moravam seu pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, condenados na Justiça.
Com depoimentos da mãe, Carolina Oliveira, dos avós maternos, testemunhas, jornalistas, especialistas, advogados da defesa e promotoria, o documentário refaz a trajetória do assassinato de Isabella, desde a ligação de emergência até o anúncio da sentença do casal Nardoni. Anna Carolina, condenada a quase 27 anos, e Alexandre Nardoni, sentenciado a 31 anos e 1 mês, encontram-se atualmente em regimes aberto e semiaberto, respectivamente.
Diante do desafio de retomar um caso de tamanha repercussão midiática, no qual os réus já são amplamente conhecidos e ainda cumprem pena, a obra focou em reexaminar o andamento do julgamento e da cobertura jornalística. Com isso, o documentário amplia a lista de possíveis culpados na tragédia e termina abrindo mais lacunas.
Debates
Na obra, Cláudio Manoel e Micael Langer trazem uma crítica necessária, mas incipiente, sobre a relação da mídia com a justiça criminal. E não porque estão equivocados, mas, diante de uma tragédia como esta, é um enorme desafio racionalizar e chegar a um julgamento convincente. Ao apontar a espetacularização da cobertura midiática e a inclinação de boa parte do público pelos aspectos mais trágicos do caso, cabe questionar: e se eles não fossem os culpados?
Outra incerteza apontada é quanto ao real envolvimento de Anna Jatobá. O advogado de defesa do casal, Roberto Podval, argumenta que o julgamento não esclareceu quem, entre ela e Alexandre, foi responsável por cada ato de violência contra Isabella – e acha intrigante como ambos ainda sustentam sua inocência. Ilana Casoy, escritora e criminóloga renomada, apresenta uma perspectiva diferente sobre Anna, colocando-a como vítima de Alexandre. Segundo a especialista, há evidências de uma violência patrimonial dirigida contra ela.
Com a disposição de preservar a lembrança de Isabella, o documentário evita explorar sua memória. São raros os trechos que detalham sua vida – como o seu desejo de aprender a ler e escrever, ou a ligação com a prima mais velha, que destacava a sua personalidade forte. E mesmo nos depoimentos da mãe, marcados por emoção e dor, o filme de Cláudio Manoel e Micael Langer parece cuidar para que a família se exponha somente o necessário.