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Cinema Filme sobre Ângela Diniz abandona nuances na recriação da personagem

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Ísis Valverde em cena do filme “Ângela”, de Hugo Prata. (Foto: Aline Arruda/Divulgação)

No papel, a ideia do filme Ângela soava muito promissora. O retrato cinematográfico de Ângela Diniz, importante figura pública assassinada em 1976, permitiria discutir o avanço da proteção às mulheres e o reconhecimento do machismo estrutural no País. Seu companheiro Doca Street alegou “legítima defesa da honra” após executar a socialite. Inicialmente, o argumento o retirou da prisão. A sociedade melhorou desde então?

O diretor Hugo Prata decidiu focar em um aspecto preciso da vida da protagonista: sua sexualidade. O fato de ser uma mulher livre para a época foi fundamental para tantos ataques na mídia e na Justiça. No entanto, esta se torna a única ferramenta de roteiro para defini-la. O importante episódio de 1974, quando Ângela foi acusada de sequestrar a própria filha, é citado por alto. Mas sabemos que ela, na ficção, adora fazer sexo com os parceiros.

Aí começam os problemas do longa. Primeiramente, assumir a libido feminina não significa reduzir a mulher ao desejo. A Ângela do cinema se traduz em mãe negligente e companheira volátil porque se dedica apenas a si mesma. Em vez de um símbolo de liberdade, torna-se uma figura hedonista e arrogante, que minimiza suas responsabilidades perante os outros para priorizar vontades próprias.

Em segundo lugar, a imagem do sexo está distante do naturalismo. Pelo contrário, reveste-se de fetiches, com um imaginário softcore estranho ao cinema do século 21. Ângela se entrega à paixão diante de uma fogueira, em câmera lenta, junto a cortinas deslizantes, ao som de rock retrô. Busca-se espetacularizar o sexo para envolver o espectador no jogo de sedução. Mesmo quando já conhecemos o caráter perverso do companheiro, e o autodestrutivo da heroína, ainda somos apresentados a cada encontro como algo repleto de desejo.

Não há sutileza na direção, que oferece planos de detalhe em facas afiadas durante brigas do casal, e revela gritos da mulher agredida no quarto, enquanto o casal de amigos se senta pacificamente na mesa ao lado e espera os barulhos acabarem para seguir com a refeição. A passividade do mundo ao redor se aproxima da paródia, conforme a violência adquire ares de fábula exemplar e de tragédia anunciada: está vendo o que pode acontecer a você, mulher comprometida, caso fique de papo com outros homens?

Em consequência, o discurso jamais honra a liberdade da protagonista, preferindo puni-la por meio de um fatalismo perverso. O filme demonstra menos interesse em entender Ângela Diniz, ou em discutir as circunstâncias da violência de gênero, do que em transformar sua morte em entretenimento levemente picante, com ares de true crime.

É possível ser fiel aos fatos, aos figurinos e cenários de época e, ainda assim, imprimir sensibilidade e senso crítico dignos dos nossos tempos. Mas o drama se contenta com explorar o aspecto bombástico do coquetel formado por sexo envolvendo morte.

Não é possível criticar a exploração machista da mídia da época através de uma abordagem igualmente sexista e propícia ao caça-cliques. (Bruno Carmelo/AE)

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https://www.osul.com.br/filme-sobre-angela-diniz-abandona-nuances-na-recriacao-da-personagem/ Filme sobre Ângela Diniz abandona nuances na recriação da personagem 2023-09-19
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