Remédios contra a malária que deveriam estar sendo usados no povo yanomami estariam sendo desviados para garimpeiros que atuam ilegalmente no território indígena. A denúncia foi feita ao Ministério da Saúde (MS) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e confirmada nesta segunda-feira (30) à imprensa.
“No dia 18 de janeiro, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) enviou um ofício à Coordenação Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos, da Secretaria de Ciências, Tecnologias e Insumos Estratégicos (MS), para notificar o órgão a respeito de informações sobre a comercialização ilegal de um lote de medicamento (artesunato + mefloquina) produzido pelo instituto para o tratamento de malária. O medicamento em questão estaria sendo vendido por garimpeiro em localidade próxima ao território indígena yanomami”, informou a Fiocruz em nota.
Segundo a fundação, o lote foi integralmente entregue ao Centro de Distribuição e Logística do MS, e a notificação por meio de ofício ocorreu como parte do protocolo interno, a fim de que o órgão esteja ciente e possa tomar as medidas que julgar cabíveis frente às informações compartilhadas.
As informações foram obtidas pela Fiocruz a partir denúncia. Questionado, o Ministério da Saúde informou que irá investigar junto aos órgãos competentes.
Resolução
Em outra frente, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, Carlos Gadelha, anunciou, nesta segunda-feira (30), que o Brasil vai propor uma resolução sobre saúde dos povos indígenas para adoção na próxima Assembleia Mundial da Saúde, que acontece em maio. O anúncio foi feito durante a abertura da 152ª sessão do Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde, realizada em Genebra, na Suíça.
“Cerca de 600 crianças indígenas morreram nos últimos quatro anos por descaso do Estado e falta de políticas públicas. Não há desenvolvimento sustentável e não há direito à saúde numa situação em que crianças morrem por abandono”, disse o secretário.
Gadelha ressaltou o retorno do Brasil ao protagonismo na saúde global e o papel central da ciência na atuação do Ministério da Saúde. O secretário enfatizou, ainda, o compromisso do governo federal com a produção local e regional de insumos para apoiar o sistema universal de saúde do Brasil e reduzir vulnerabilidades e assimetrias mundiais.
“A saúde é uma prioridade do governo do presidente Lula, considerada como uma força motriz do desenvolvimento, por reunir as dimensões social, econômica e ambiental”, declarou Gadelha.
O anúncio da resolução vem em momento oportuno diante do delicado contexto da saúde indígena no Brasil, especialmente pela situação do povo Yanomami, que vive uma crise humanitária em razão de desassistência sanitária e nutricional. Equipes do Ministério da Saúde e da Força Nacional do SUS estão em Boa Vista (RR) desde o dia 16 de janeiro.
O grupo se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos. As informações são da Agência Brasil e do Ministério da Saúde.