Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2022
Quem achou que num futuro próximo estaríamos conversando com máquinas, acertou em cheio. Assistentes virtuais como a Alexa, da Amazon, a Siri, da Apple, e o Google Assistant popularizaram-se e cada dia ganham novas funções que vão muito além de acionar a playlist preferida, acender ou pagar a luz, informar as notícias do dia ou a previsão do tempo.
A praticidade do comando de voz já é usada por muitos consumidores na hora de fazer pesquisa de preços e até compras. O problema é quando a assistente virtual usa sua inteligência artificial e decide fazer encomendas por conta própria.
Uma pesquisa recente elaborada pelo grupo americano de investimento Loup Ventures mostrou que as assistentes virtuais não compreendem parte dos comandos. Em um teste de 800 perguntas, a Google Assistant respondeu 88% das consultas; já a Siri, 75%; e a Alexa, 72%.
Para o especialista em segurança digital do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) Lucas Cabral, o resultado da pesquisa pode ser uma pista para as compras indevidas:
— A inteligência artificial é programada para reconhecer a voz de acordo com cada idioma. No entanto, ao passar constantemente por atualizações, pode não reconhecer determinados verbos e predicados na hora em que o usuário formula uma frase ou um pedido.
Para o advogado Danilo Doneda, integrante do Conselho Nacional de Privacidade e Proteção de Dados do Brasil, quando as assistentes virtuais passam a tomar decisões por conta própria, fica clara a necessidade de reforçar sistemas de segurança dos dispositivos:
— As assistentes virtuais presumem o que a pessoa deseja. Elas escutam o que os usuários estão falando e estudam o comportamento. Parece-me perigoso fazerem compras sem autorização. Isso demonstra que é preciso reforçar a segurança de dados. A partir do momento em que as empresas coloquem serviços de IA (inteligência artificial) no mercado e há algum tipo de falha é preciso que deem um retorno imediato à sociedade.
Siri
Quando a empresária Alana Villela, de 37 anos, mudou-se do Rio para São Paulo, decidiu pedir ajuda à Siri para organizar as compras para o novo endereço. Não podia imaginar que, dois meses depois, a assistente do smartphone repetiria o pedido a seu bel-prazer.
O resultado, diz, foi uma conta extra de R$897,50 com a compra repetida de pratos, copos e outros apetrechos para o enxoval da casa, na fatura de junho do cartão.
Duas semanas depois, mais uma surpresa: a compra de uma passagem de avião para o Rio, por R$550. Alana só soube no dia do voo, quando recebeu notificação da companhia aérea para o check-in e já estava no Rio. Com o cartão de crédito estourado, ela conta que desativou a assistente virtual para evitar mais prejuízos.
“Algo que era para facilitar a vida acabou dificultando ainda mais’, reclama Alana, que diz não ter tido retorno da Apple sobre a possível falha na assistente.
Termos de uso
Cabral pondera que os usuários também precisam aprender a fazer uso correto da tecnologia. Ele acredita que muitos dos problemas ocorrem porque as pessoas aceitam “termos de uso” em sites de navegação, muitas vezes, sem ler. Dessa forma, diz, a assistente virtual entende que a compra ou a contratação de um determinado produto ou serviço pode ser feita já que não foi acionada nenhuma trava.
— Sempre vai existir um algoritmo para fazer qualquer coisa no mundo. É preciso muito cuidado para fazer bom uso do produto. A tecnologia ajuda, mas, quando utilizada de forma incorreta, não.
Doneda destaca, no entanto, que, se for identificada falha nas assistentes virtuais em função de projeto ou desenho da inteligência artificial, pelo direito do consumidor, a responsabilidade é do fabricante.