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Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2019
Pesquisadores da Nasa que monitoram focos de queimada no planeta afirmam que seus dados sobre a Amazônia estão consistentes com o aumento inesperado que o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) vem reportando nas últimas semanas. “Vimos sinais de que o desmatamento está aumentando neste momento”, disse Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Maryland, nos Estados Unidos.
Conforme o pesquisador, é possível relacionar os principais focos de calor detectados pelos satélites Terra e Aqua da Nasa ao corte raso de floresta na região, e não a outros tipos de atividade que implicam queimadas sem desmatamento, como limpeza de pastos, preparo de plantios ou queima de bagaços. “Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumaça se aquilo for somente limpeza de pasto, por exemplo”, afirmou ele.
De acordo com o pesquisador, o padrão de nuvens visto na região é o de “pirocúmulo”, associado a fogo ou atividade vulcânica. Morton afirma que na última vez que um cenário assim foi capturado por satélites da Nasa sobre a Amazônia foi nos anos de 2002 a 2004, quando o desmatamento anual estava acima dos 20 mil km² por ano. Uma nota divulgada pelo site Earth Observatory da Nasa foi extensamente compartilhada em redes sociais por perfis de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (22), por incluir a informação de que “a atividade total de fogo ao longo da Bacia Amazônica neste ano esteve perto da média em comparação aos últimos 15 anos”.
Morton confirma que o texto está correto porque inclui o ano de 2004, que infla a média por ter sido mais que o triplo do desmate anual típico dos últimos sete anos. Não pode ser usado, porém, para negar uma tendência alta de aumento no desmate em 2019. “A afirmação [da Nasa] coincide com os dados do Programa Queimadas do Inpe”, diz o coordenador do projeto, Alberto Setzer. “Os dados de focos de queima de vegetação que usamos na geração dos nossos dados — os focos do satélite Aqua — são, em princípio, exatamente os mesmos que a Nasa usa no monitoramento que fazem para todo planeta. Os valores finais do Inpe são um pouquinho inferiores, pois retiramos o sinal de fontes industriais, como siderúrgicas, por exemplo”, concluiu.
Segundo ele, o fato de a Nasa afirmar que Mato Grosso e Pará estão abaixo da média para queimadas também não conflita com os dados do Inpe. “Mato Grosso é o estado com mais focos neste ano. Por outro lado, em termos de aumento porcentual, o Pará está muito mais alto”, diz Setzer.
O Programa de Queimadas do Inpe não emitiu relatório sobre a origem das queimadas de 2019, mas está concedendo dados com diversos recortes no site. Em uma nota técnica assinada por quatro cientistas, a ONG Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) deu parecer sobre os números. “O número de focos de incêndios, para maioria dos estados da região [amazônica], já é [ainda em agosto] o maior dos últimos quatro anos. É um índice impressionante, pois a estiagem deste ano está mais branda do que aquelas observadas nos anteriores”, afirma o grupo.
Os cientistas dizem observar na presença do fogo um sinal claro. “As chamas costumam seguir o rastro do desmatamento: quanto mais derrubada, maior o número de focos de calor”, afirmam. Conforme o Ipam, não se pode dizer que o Inpe esteja superestimando os dados. No caso do Acre, um estado que tem sofrido muito com a qualidade do ar em função das queimadas, o cenário pode estar sendo até subestimado.