Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de maio de 2024
Sem operar há duas semanas, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, segue com partes estruturais debaixo d’água. Desde o início do mês, a cheia compromete a pista de pouso, a parte elétrica, o sistema de radar e luzes de balizamento, todos fundamentais para pousos e decolagens. Especialistas ressaltam que o tamanho do estrago só poderá ser dimensionado quando o alagamento for escoado. O que já se sabe é que muito do que estava lá precisará ser substituído para que as operações sejam retomadas de forma segura.
O tráfego aéreo foi suspenso na última semana pela Fraport, que administra o aeroporto, e as atividades não devem retornar antes de setembro. A concessionária informa que o terminal continua interditado por tempo indeterminado — o pedido à Força Aérea Brasileira (FAB) é válido até 30 de maio e pode ser prorrogado. Estima-se que, até o fim do prazo, ocorra o cancelamento de mais de 4.500 voos. O terminal recebe, em média, 165 voos comerciais por dia, segundo a Fraport. A expectativa é de que 500 mil passageiros sejam afetados pela interrupção do serviço.
“Não temos uma estimativa dos danos causados pela enchente. Após as águas baixarem, teremos condições de avaliar em detalhes os impactos na infraestrutura aeroportuária”, diz a Fraport em nota.
A empresa orienta os passageiros a entrarem em contato com as companhias aéreas para informações sobre os voos. Segundo o boletim divulgado pela Defesa Civil na noite de sexta-feira, 13 dos 14 aeroportos do estado estão funcionando. Na semana passada, o governo federal anunciou uma malha emergencial para atender os voos com destino a Porto Alegre. A movimentação no terminal em 2023 foi de 7,6 milhões de passageiros.
O plano do governo prevê ampliação de 116 voos semanais no estado. Além da Base Aérea de Canoas, que deve receber voos comerciais a partir da próxima semana, também fazem parte da malha emergencial os aeroportos de Caxias do Sul, Santo Ângelo, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, e Florianópolis e Jaguaruna em Santa Catarina. As companhias aéreas já operam nesses terminais.
Visando proteger os consumidores, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) proibiu as companhias aéreas de comercializar bilhetes com partida e destino ao Salgado Filho. A retomada da venda dependerá de uma nova avaliação da Anac — até a terça-feira passada, era possível comprar passagem para Porto Alegre para o segundo semestre.
Principais impactos
Ainda não há expectativa de quando o retorno dos pousos e decolagens ocorrerá no Salgado Filho, uma vez que as pistas, inundadas, estão entre as estruturas mais atingidas e podem ter pedido a planicidade.
“Embora seja um lugar em que, caso hajam problemas eles serão importantes, a pista me traz menos preocupação pelo pavimento rígido, preparado para receber o impacto do avião no caso de aterrissagem”, afirma Felipe Brasil Viegas, coordenador do Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da PUC-RS.
O pesquisador aponta que a área de táxi — onde o avião circula entre a pista e o terminal — tem maior risco de destruição pelas chuvas, pelo fato de a pavimentação ser menos resistente e, por consequência, mais suscetível à deformação.
Caso o pavimento tenha sido danificado, a pista vai precisar de uma recapagem. Posteriormente, deverá passar por um teste de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), quando o nível de resistência da estrutura será calculado.
Danos elétricos
O sistema de alimentação e distribuição elétrica do aeroporto também foi afetado. Gestor de Crises e Investigador de Acidentes Aeronáuticos, Maurício Pontes avalia que o sistema de sinalização de voo por instrumento precisará ser substituído quando a água baixar. O não uso dele limitaria os pousos e decolagens, uma vez que os voos não seriam permitidos em momentos de baixa visibilidade.
O especialista destaca que a água na estrutura influencia outros pontos centrais do aeroporto, como o sistema de segurança contra incêndios, portais de acesso de passageiros, pontos de controle, escadas rolantes e a operação de distribuição de bagagem.
“Esse é um sistema automatizado e que a substituição terá um prejuízo gigantesco. Ao final do diagnóstico, podemos descobrir que construir um novo aeroporto pode ser mais barato do que investir para reconstruir o que foi perdido com a chuva”, aponta.
O alagamento na parte interna do aeroporto está restrito ao primeiro andar e estima-se que as companhias aéreas tenham prejuízos com materiais que se encontravam no local. A área de check-in não foi atingida pela água, uma vez que está no andar acima.