As mais de 400 páginas da denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que motivaram o afastamento do governador Wilson Witzel, mostram em detalhes a disputa por poder e vantagens entre três grupos dentro do governo. Além do empresário Mário Peixoto, preso em maio, e do presidente do PSC, pastor Everaldo, preso na última sexta-feira, a Justiça pediu a prisão de um terceiro personagem, menos conhecido, que está foragido. Trata-se de José Carlos de Melo, ex-pró-reitor da Universidade Iguaçu (Unig), que tinha um diferencial: sempre possuía dinheiro em espécie para as supostas transações.
Segundo a denúncia com base na delação premiada do ex-secretário de Saúde do Estado, Edmar Santos, José Carlos agenciava as empresas que prestariam serviço para a pasta, recebendo valores em razão da intermediação. Segundo Edmar, José Carlos dizia abertamente que tinha muita facilidade em ter dinheiro vivo.
O delator relata um episódio em que, após uma reunião na casa de José Carlos para tratar de vantagens em contratações na saúde, ficou acertado que Edmar receberia R$ 600 mil em propina. José Carlos teria, então, entregue imediatamente uma mochila com R$ 300 mil em espécie. A segunda parte também foi paga em dinheiro, apesar de Edmar ter pedido para receber de outra maneira.
José Carlos teria entrado no governo por intermédio do grupo do empresário Mário Peixoto, segundo a denúncia. Peixoto foi preso na Operação Favorito, acusado de montar um esquema dentro da secretaria de Saúde de fraudes em licitações. Seu homem de confiança seria o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, o advogado Lucas Tristão. Foi por intermédio de Tristão que José Carlos teria entrado no grupo, mas, com o tempo, o ex-pró-reitor da Unig se distancia dele e passa andar pelas próprias pernas.
Sem cortar relações com o ex-aliado, José Carlos passa a transitar não só em seu grupo, mas também no do Pastor Everaldo, de acordo com a delação. O religioso comandaria outro núcleo do governo que estaria em constante tensão com Peixoto.
A denúncia aponta ainda que outra característica do grupo do ex-pró-reitor é que, há alguns meses, ele vinha investindo em deputados, “tendo uma base de 10 a 12 deputados estaduais Assembleia Legislativa do Rio (Alerj)”. Esses parlamentares receberiam uma “mesada” de José Carlos.
De perfil discreto, José Carlos de Melo foi jogador de futebol do Itaperuna, e, depois de deixar os gramados, começou a trabalhar no campus da Unig da cidade onde virou administrador da unidade. Se aproximou do ex-deputado federal Fábio Raunheitti, antigo dono da Universidade e, após a morte de Raunheitti, assumiu a administração de toda a Unig como pró-reitor, cargo que ocupou até junho deste ano.
Segundo fontes, José Carlos teria tido papel fundamental na campanha de segundo turno de Witzel em 2018. Com a eleição, teria passado a exercer forte influência em todas as áreas do governo e a mudar seu perfil. Antes tido como homem dos bastidores, teria passado a ser mais ativo política e administrativamente nos últimos meses, participando inclusive de articulações visando as eleições para prefeituras do Estado. As informações são do jornal O Globo.