Militares da atual cúpula das Forças Armadas atuam para blindar o ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira na investigação por tentativa de golpe de Estado. Por outro lado, o Alto Comando tem reforçado as críticas a ex-ministros da ala militar de Jair Bolsonaro, como os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
Ex-comandantes implicam Bolsonaro diretamente em plano golpista
Na tentava de proteger o ex-ministro, integrantes da caserna destacam que seu cargo como chefe da pasta da Defesa era de “natureza política” e que, por ser um quadro do governo, Nogueira estaria “mais suscetível” às pressões e ordens do então presidente, tanto na eleição, quanto após a sua derrota.
A leitura que membros do Alto Comando fazem é que, a decisão de Nogueira, de deixar o Exército para assumir a pasta da Defesa, foi uma “troca ruim” para o general. Como informou a coluna, em depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante da Força, Freire Gomes, implicou diretamente Jair Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira na trama golpista.
A imagem do general junto a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também é negativa. Há a avaliação de que, se Nogueira estivesse à frente do Exército quando Bolsonaro foi derrotado, o general teria aceitado a embarcar no golpe.
O amparo que Nogueira tem encontrado nas Forças Armadas não se repete com outros ministros militares que acompanharam Bolsonaro desde o início de seu governo, como Heleno e Braga Netto. A avaliação da atual cúpula militar é que eles teriam sido excessivamente subservientes ao ex-presidente.
O general mais abandonado é Braga Netto, especialmente pelos ataques que orientou contra colegas de caserna e suas famílias. O militar, no entanto, tem feito um mea-culpa sobre as críticas que vieram à tona, por meio das investigações da PF, e diz se arrepender de ter “agido com o fígado”.
Detalhamento
Os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) para a Polícia Federal comprometeram o ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, o general Paulo Sergio Nogueira, na trama golpista que visava impedir a posse de Lula.
Ambos relataram aos investigadores a participação de Nogueira em ao menos duas reuniões onde temas relativos a um golpe de Estado foram debatidos. Um dos encontros foi convocado por Bolsonaro com os comandantes das Forças, após ser derrotado nas eleições de 2022.
Freire Gomes e Baptista Júnior confirmaram não só a realização da reunião, mas também a presença de Nogueira, então ministro da Defesa. Os dois ex-comandantes também relataram terem tido outro encontro com Nogueira, desta vez sem a presença de Bolsonaro, no qual foi abordada a mesma trama golpista. Essa reunião aconteceu no Ministério da Defesa.
Outro ponto explorado nos depoimentos foi a “cadeia de comando” das Forças Armadas, já que o general e o brigadeiro estavam submetidos ao então ministro da Defesa.
Paulo Sérgio Nogueira é um dos investigados no inquérito que apura a tentativa de golpe arquitetada, segundo a PF, por Bolsonaro, integrantes de seu governo e militares. Ele chegou a ser alvo de buscas no mês passado e convocado para um interrogatório, mas se manteve em silêncio.