Não foram poucos nem discretos os sinais enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), na quinta-feira (1º), indicando que a crise aberta pelo vazamento de mensagens da Lava-Jato subiu de patamar.
O impacto dos reveses impostos pela corte à Receita e aos que pretendiam restringir as apurações do hackeamento à Justiça Federal foi sentido de imediato. A resposta do Supremo desagregou o apoio a Deltan Dallagnol na PGR (Procuradoria-Geral da República), e, no Judiciário, aos métodos da operação. O clima para os procuradores nunca foi tão pesado.
“Canalhas!”, exclamou um ministro em mensagens a pessoas próximas após reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo The Intercept mostrar que o chefe da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, estimulou um cerco ao presidente do Supremo, Dias Toffoli, em 2016. A mulher de Toffoli teve o sigilo quebrado pela Receita. Os dados vazaram. O mesmo ocorreu com o casal Gilmar Mendes e Guiomar.
Dallagnol
Depois de requisitar à Polícia Federal as mensagens hackeadas de autoridades, ministros do STF articulam o afastamento do procurador da República Deltan Dallagnol do comando da Lava-Jato, em Curitiba.
Nos bastidores, eles buscam os caminhos para que isso ocorra. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem sido pressionada a determinar essa medida a partir de Brasília. Na quinta-feira, ela chamou uma reunião de emergência para discutir o assunto.
Pessoas próximas a ela dizem, porém, que Dogde não estaria disposta a se indispor com os colegas de Ministério Público Federal. Com isso, o destino de Dallagnol na Lava-Jato teria de ser decidido pelo STF. A decisão, segundo a articulação em curso no tribunal, pode caber a Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das fake news, relatado por ele.
Na quinta-feira, Moraes determinou que as mensagens apreendidas pela PF com os suspeitos de terem hackeado celulares de autoridades, como o ministro da Justiça, Sergio Moro, sejam encaminhadas ao Supremo no prazo de 48 horas. Assim, o caso dos hackers também passa a estar sob a alçada do Supremo.
A reação do STF se deu no dia em que mensagens publicadas pela Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept Brasil, revelaram que, em 2016, Deltan incentivou colegas a investigar Dias Toffoli, atualmente presidente do Supremo.
Os ministros criticaram duramente a atuação de Dallagnol, que, na avaliação deles, passou a usar a operação de combate à corrupção como instrumento de intimidação. Conforme as mensagens, Dallagnol buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher, Roberta Rangel, e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com o esquema de corrupção na Petrobras.