As fortes chuvas no Maranhão têm deixado os moradores de Buriticupu, a 417 km de São Luís, em alerta. Isso por conta dos riscos causados pelas “voçorocas”, enormes crateras que, há 30 anos, invadem parte da cidade. Com 26 buracos gigantes que avançam pelo local, a ameaça é a de que a região possa desaparecer em meio às crateras.
No Acre, as chuvas fizeram com que, na última quinta (30), o nível do Rio Acre passasse dos 17 metros em Rio Branco — maior cota desde 2015, quando o manancial chegou a 18,40 metros. Agora, são mais de 40 mil moradores atingidos na região, que tem 5,5 mil famílias desalojadas.
Os dois cenários chamam a atenção para os possíveis impactos das mudanças climáticas no Brasil. Em 2021, uma pesquisa conduzida pela Climate Central, organização sem fins lucrativos sediada nos EUA, identificou regiões do mundo que podem sofrer inundações “sem precedentes” sem políticas sustentáveis.
As cidades brasileiras destacadas pelo estudo foram: Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo os pesquisadores, o pior cenário do aumento de temperatura (com projeção em até 4ºC) pode fazer o mar invadir terras ocupadas por até 15% da população global atual, o equivalente a cerca de um bilhão de pessoas.
Apesar disso, é improvável que alguma cidade chegue a desaparecer, embora algumas regiões sejam mais vulneráveis que outras. Entre elas estão as áreas do interior do Nordeste brasileiro, que podem passar a ser “inviáveis” como áreas urbanas por conta do aumento da temperatura e da redução da precipitação nos próximos 10 a 30 anos.
“Outros tipos de cidade que vão ser afetadas são as costeiras, como o Rio de Janeiro e Recife”, disse Paulo Artaxo, físico e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Neste mês, a divulgação do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — organização científico-política das Nações Unidas pelo meio ambiente — indicou que é “provável” que a temperatura do planeta chegue, até o fim deste século, até 1,5ºC acima dos níveis vistos antes da Revolução Industrial, no século 18.
As temperaturas mais altas, no entanto, não se limitam a dias muito quentes, como os vistos no último verão: os eventos climáticos extremos também estão cada vez mais comuns. Fortes ondas de frio nos EUA e Canadá, secas prolongadas que provocam incêndios em florestas na Europa e, ainda, o volume de chuva esperado para um mês.
“O Acre tem taxas de desmatamento razoáveis e que cresceram nos últimos anos. Tem que parar de desmatar hoje. Ao desmatar, o carbono vai para a atmosfera e piora o fenômeno de alterações no clima, levando a esses extremos”, disse Alexandre Prado, especialista em mudanças climáticas do World Wide Fund for Nature (WWF Brasil).
Para ele, não é possível afirmar que lugares como o Rio Branco irão desaparecer, mas uma coisa é certa: o Brasil terá um custo social grande para se adaptar a este novo cenário — especialmente os mais pobres, que emitem menos gases de efeito estufa.
“Quem paga a conta são os brasileiros, principalmente as pessoas que menos emitem. São aqueles que comem pouca carne, andam de transporte público e vivem em condições precárias os que pagam mais. Isso é injusto e acontece no mundo inteiro.”