Por Redação O Sul | 7 de setembro de 2015
O gesto, imperceptível para alguns, levou um minuto. Mesmo assim esse ato pequeno, mas tenso, teve um grande simbolismo. Foi quando, no ano passado, Martin Root colocou uma fotografia de seu novo parceiro, David, sobre sua mesa de trabalho. Ela substituiu a foto que ele manteve durante anos no mesmo local, de sua ex-esposa. Com o esse artifício, ele revelou sua orientação sexual para os colegas.
“Foi uma maneira de sair do armário para um número maior de pessoas. Foi como um teste ver quem já imaginava e quem resolveu fazer comentários”, diz Root. Com 44 anos e pai de dois filhos, ele está surpreso com o significado do que fez. “Eis aqui uma foto que mostra que sou abertamente gay. Não ter essa foto era com se eu estivesse negando uma parte do que sou.”
A iniciativa o ajudou a relaxar durante o expediente. A fotografia é uma espécie de atalho, diz ele. “Ela significa que não preciso me expor no ambiente corporativo. É uma maneira de deixar claro qual é a minha sexualidade sem precisar ficar falando disso o tempo todo.”
Uma fotografia da esposa, namorado, filho, cachorro ou de você mesmo esquiando pode parecer inconsequente – ou até mesmo embaraçoso. Mas a exibição desses momentos pessoais no escritório pode dizer muita coisa sobre nossos empregos, as mudanças do local de trabalho e das atitudes sociais. Root poderia não se sentir confortável exibindo uma foto de seu parceiro uma geração atrás. É claro que muitos ainda não se sentem: empresas fechadas podem exigir funcionários fechados.
O significado das minúcias do trabalho no escritório foi bem descrito no romance “Then We Came to the End”, de Joshua Ferris: “As fotos dos entes queridos coladas no monitor do computador para animar e estimular tornaram-se um lembrete ridículo do tempo passado”.
Essas coisas são importantes. O que parece bagunça para uma pessoa pode ser uma tentativa de outra de fugir do anonimato ou até mesmo amenizar o local de trabalho com cores e personalidade. Elas também demarcam o território do funcionário. Há muitos relatos de trabalhadores que se rebelaram contra as estações de trabalho compartilhadas, estabelecendo suas baias de preferência com fotografias dos filhos.
As companhias que tentam erradicar os toques pessoais têm se mostrado bastante desmotivadoras para os funcionários. Um estudo da década de 1990 com três grandes organizações britânicas já havia mostrado que as tentativas de banir a personalização dos escritórios tornou os trabalhadores apáticos e reduziu a produtividade.
Por outro lado, de acordo com Kimberly Elsbach, professora de comportamento organizacional da UC David Graduate School of Management, equipes que podem expor objetos pessoais, equipamentos, móveis e decorações variadas formam grupos de trabalho bem-sucedidos, produtivos, contentes e capazes de trabalhar juntos.
“A personalização ajuda as pessoas a superar o sentimento de ser apenas mais um no escritório. Algo tão simples como poder colocar uma foto em uma mesa, ou personalizar a tela de fundo do computador também pode ajudar os funcionários a sentir que eles têm um certo controle sobre seus locais de trabalho, além de ser uma afirmação pessoal”, afirma.
Além disso, fotografias podem servir para quebrar o gelo em conversas e aumentar as conexões. Por outro lado, retratos de crianças podem afastar um colega que não tem apreço por essas pequenas criaturas. O que escolhemos ocultar também pode ser revelador. A última coisa que uma banqueira pode querer é exibir uma foto dos filhos, preferindo ocultar sua identidade materna para que sua identidade profissional não seja diminuída.
Um estudo da WFD Consulting, especializada no equilíbrio entre a vida particular e a profissional, revelou preconceitos contra aqueles com responsabilidades domésticas. Apesar de apoiar valores como a família e as amizades, mais de 40% dos líderes empresariais declararam que os melhores funcionários “são aqueles sem muitos compromissos pessoais”. (Folhapress e AG)
