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Variedades Fragmentos de um diário inexistente – X

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Arte: Marcos Cunha/Osul

De árvores e cidades

No deserto de Mojave é frequente encontrarmos as famosas cidades-fantasma: construídas perto de minas de ouro; eram abandonadas quando todo o produto da terra tinha sido extraído. Havia cumprindo seu papel e não tinham mais sentido continuar sendo habitadas.

Quando passeamos por uma floresta, também vemos árvores que – uma vez cumprido seu papel – terminaram caindo. Mas, diferente das cidades-fantasma, o que aconteceu? Abriram espaço para que a luz penetrasse, fertilizaram o solo e tem seus troncos cobertos de vegetação nova.

As nossa velhice vai depender da maneira que vivemos. Podemos terminar como uma cidade fantasma. Ou então como uma generosa árvore, que continua a ser importante, mesmo depois de caída por terra.

 

O sentido da verdade

Em nome da verdade, a raça humana cometeu seus piores crimes. Homens e mulheres foram queimados. A cultura de civilizações inteiras foi destruída. Os que procuravam um caminho diferente eram marginalizados.

Um deles, em nome da “verdade”, terminou crucificado. Mas, antes de morrer, deixou a grande definição da Verdade.

Não é o que nos dá certezas.
Não é o que nos dá profundidade.
Não é o que nos faz melhor que os outros.
Não é o que nos mantém na prisão dos preconceitos.
A verdade é o que nos dá a liberdade. “Conhecereis a Verdade, e a verdade vos libertará”, disse Jesus.

 

Sobre o ritmo e o Caminho

“Faltou algo em sua palestra sobre o Caminho de Santiago”, me diz uma peregrina, assim que saímos da Casa de Galicia, em Madri, onde minutos antes eu acabara de dar uma conferência.

Deve ter faltado muita coisa, pois minha intenção ali era de apenas compartilhar um pouco minha experiência. Mesmo assim, convido-a para tomar um café, curioso em saber o que ela considera como uma omissão importante.

E Begoña – este é seu nome – me diz: “Tenho notado que a maioria dos peregrinos, seja no Caminho de Santiago, seja nos caminhos da vida, sempre procura seguir o ritmo dos outros. No início de minha peregrinação, procurava ir junto com meu grupo. Me cansava, exigia de meu corpo mais do que podia dar, vivia tensa e terminei tendo problemas nos tendões do pé esquerdo. Impossibilitada de andar por dois dias, entendi que só conseguiria chegar a Santiago se obedecesse meu ritmo pessoal.”

“Demorei mais que os outros”, continuou ela. “Tive que andar sozinha por muitos trechos mas foi só porque respeitei meu próprio ritmo que consegui completar o caminho. Desde então, aplico isso a tudo que preciso fazer na vida: respeito o meu tempo.”

 

Tudo vira pó

As festas de Valência, na Espanha, têm um curioso ritual, cuja origem está na antiga comunidade dos carpinteiros.

Durante o ano inteiro, artesãos e artistas constroem esculturas gigantescas em madeira. Na semana de festa, levam estas esculturas para o centro da praça principal. As pessoas passam, comentam, se deslumbram e se comovem diante de tanta criatividade. Então, no dia de São José, todas estas obras de arte – exceto uma – são queimadas numa gigantesca fogueira, diante de milhares de curiosos.

“Por que tanto trabalho a toa?”, perguntou uma inglesa ao meu lado, enquanto as imensas labaredas subiam aos céus.

“Você também vai acabar um dia”, respondeu uma espanhola. “Já imaginou se, neste momento, algum anjo perguntasse a Deus: ‘porque tanto trabalho a toa?’”

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https://www.osul.com.br/fragmentos-de-um-diario-inexistente-x/ Fragmentos de um diário inexistente – X 2015-06-28
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