O primeiro-ministro francês Édouard Philippe anunciou, ontem, uma série de medidas fiscais, inclusive redução de impostos sobre empresas, e reafirmou seu compromisso de reduzir gastos públicos, no discurso de política geral na Assembleia Nacional. O imposto sobre as empresas passará de 33% a 25% até 2022, e várias medidas ficais serão votadas antes do fim do ano e aplicadas no próximo biênio, segundo Philippe.
“As empresas devem recuperar o desejo de se instalarem e se desenvolverem no nosso país, em vez de em outros lugares”, declarou, provocando aplausos dos políticos.
Ele também anunciou um plano de investimentos de € 50 bilhões, promessa de campanha do presidente centrista Emmanuel Macron.
“É importante controlar a atividade, mas é igualmente decisivo investir nos setores do futuro”, acrescentou o primeiro-ministro.
Esses investimentos terão foco “na transição ecológica, no desenvolvimento das competências, na saúde, nos transportes, na agricultura e na modernização do Estado” definiu.
Philippe se comprometeu, também, a “reduzir a carga tributária em um ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em cinco anos” e prometeu “diminuir os gastos públicos em três pontos percentuais do PIB nesse mesmo período”, acrescentando que a França “não vai gastar mais em 2018 do que em 2017”.
A prometida redução de impostos para lares e indivíduos mais ricos, contudo, foi adiada em um ano, para 2019, segundo o jornal “Financial Times”. Essa mudança de planos é vista como um sinal da reorganização da agenda de Macron diante da situação das contas da França. O jornal britânico explica, ainda, que Philippe afirmou que o preço dos cigarros no país será reajustado em 43%.
O primeiro-ministro, que veio da direita moderada, disse estar disposto a “enfrentar a verdade” sobre a situação financeira do país, cuja dívida alcança o “nível insuportável” de € 2,147 trilhões.
“Estamos dançando sobre um vulcão que está cada vez mais forte”, afirmou, comprometendo-se a baixar o déficit público a menos de 3% a partir deste ano.
Philippe também atacou o “vício” dos gastos no país. Na semana passada, o auditor independente da França revelou uma insuficiência de mais de € 8 bilhões de financiamento para o orçamento deste ano, prevendo um déficit mais uma vez acima do teto de 3% da renda nacional estabelecido pela União Europeia (UE).
“Os franceses são viciados no gasto público. Como todos os vícios, isso não resolve o problema que deveria remediar. E, como qualquer vício, é preciso vontade e coragem para se desintoxicar”, observou o premier.
“CAMPEÃ DE GASTOS E IMPOSTOS”
A França não pode “seguir sendo, ao mesmo tempo, campeã de gastos públicos e de impostos”, insistiu Philippe, que assegurou que não quer deixar o país “à mercê dos mercados financeiros”.
O premier disse que a Alemanha gastou € 98 de cada € 100 que arrecadou em impostos, enquanto a França gastou € 125 de € 117 obtidos da mesma maneira. Em 2016, o gasto público representou 56,4% do PIB francês. Os impostos e contribuições sociais alcançaram 44,4% do PIB.
O presidente Macron vê a contenção de gastos e a redução do déficit orçamentário como essenciais para conquistar a confiança da Alemanha, sua parceira na UE, e persuadir Berlim a embarcar em reformas no bloco. (AG)