Após os resultados da pesquisa de boca de urna, o candidato Friedrich Merz, da União Democrática Cristã (CDU), partido conservador tradicional, se declarou vencedor das eleições legislativas da Alemanha. Segundo a boca de urna, a legenda teve 29% dos votos, seguida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), liderado por Alice Weidel, que ficou com 19,5%. É o melhor resultado para a extrema direita alemã desde a Segunda Guerra Mundial. O Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, ficou em terceiro lugar, com 16%
O partido de ultradireita alemão, Alternativa para a Alemanha (AfD), teve o melhor resultado da história nas eleições parlamentares. “Nunca estivemos tão fortes — somos a segunda maior força”, disse Alice Weidel, colíder do AfD, ao subir ao palco de uma festa eleitoral após o anúncio das pesquisas de boca de urna. “Podemos realmente provocar uma mudança histórica”, afirmou, acrescentando que o partido “está sempre abertos a negociações”.
Merz, que se autodenomina um conservador social e liberal econômico, levou os democratas-cristãos mais para a direita, principalmente em relação à imigração, desde que sucedeu a ex-chanceler Angela Merkel como líder do partido em 2021. Merkel criticou abertamente Merz no mês passado por ter contado com o apoio da extrema-direita para aprovar uma moção não vinculante sobre migração no parlamento.
O atual chanceler alemão, Olaf Scholz, parabenizou Merz pelo resultado da eleição. Além de assumir a responsabilidade pelo fraco desempenho da sigla, Scholz afirmou ser inaceitável que um partido de extrema-direita obtivesse o tipo de resultado que a AfD viu nesse domingo. “Nunca vou aceitar isso”, exclamou Scholz.
Os alemães registraram uma participação mais elevada nestas eleições, do que em pleitos anteriores. Em média, foi registrada a presença de 33% dos 2,4 milhões de eleitores registrados até o meio dia (hora local), nos distritos de votação. Na última eleição, em 2021, a participação foi de 25%. O voto na Alemanha não é obrigatório.
Sem maioria
Apesar de ter superado o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, a CDU/CSU não assegurou maioria entre as 630 cadeiras no Bundestag. Assim, a legenda ainda terá que costurar alianças com outras siglas para solidificar a ascensão de Merz ao posto e garantir a formação de um governo estável, um processo que pode se arrastar por semanas.
Até lá, Scholz deve permanecer no posto interinamente. E o processo de formação de uma coalizão pode se complicar dependendo da quantidade de legendas que superarem a cláusula de barreira de 5% para formar bancadas no Parlamento, quando a contagem final for confirmada. Num Bundestag mais pulverizado, será mais desafiador para a CDU/CSU formar alianças.
União Europeia
A vitória de Merz ocorre em um período frágil para a União Europeia (UE), em meio a ameaça de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e negociações do republicano com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para o fim da guerra na Ucrânia. Até agora, Kiev e Bruxelas não estiveram na mesa de negociação e os europeus temem que o republicano feche um acordo com Moscou sem consultá-los.
Na última semana, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, chocou os líderes europeus ao afirmar que a maior ameaça à segurança mundial não era uma guerra com a Rússia ou a China, mas a supressão da liberdade de expressão, em uma crítica às medidas adotadas pelos europeus para conter a disseminação de discurso de ódio nas redes sociais.
Reconhecimento
O presidente da França, Emmanuel Macron, já parabenizou Merz pela vitória e afirmou que Paris e Berlim irão “trabalhar por uma Europa forte”. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também parabenizou Merz. “Parabéns a Friedrich Merz pela vitória eleitoral de hoje na Alemanha. Estamos ansiosos para trabalhar com você neste momento crucial para nossa segurança compartilhada. É vital que a Europa intensifique os gastos com defesa e a sua liderança será fundamental”, apontou Rutte, em um comunicado.
Donald Trump felicitou Merz em sua rede social Truth afirmando que, “tal como os EUA, o povo da Alemanha se cansou da agenda sem bom senso, especialmente sobre energia e imigração, que prevaleceu durante tantos anos. Este é um grande dia para a Alemanha”.
Na mesma linha, o vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, declarou que “a mudança também está vencendo na Alemanha! A AfD duplica os seus votos, apesar dos ataques e das mentiras da esquerda: acabar com a imigração ilegal e o fanatismo islâmico, chega de loucura ecológica, dar prioridade à paz e ao emprego, a Europa tem de ser radicalmente mudada. Muito bem (co-líder da AfD) Alice Weidel, continue assim!”.