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Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2017
O doleiro Lúcio Funaro disse que antes de resolver se tornar delator acertou os detalhes da estratégia de defesa com os advogados dele e de um dos donos da JBS, Joesley Batista. Na época, Antonio Claudio Mariz, amigo pessoal do presidente Michel Temer, cuidava do caso de Funaro.
Mariz, que não é especialista em delação premiada, deixou o caso depois que o doleiro resolveu contar para a Justiça o que sabia. O criminalista até sexta-feira era o advogado do presidente Temer.
Na delação premiada, Lúcio Funaro relata um encontro entre o advogado da holding J&F – administradora da JBS – Francisco de Assis, no início de 2016, no escritório de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que na época cuidava da defesa dele.
Conforme publicado no sábado pelo jornal O Globo, o encontro tinha como objetivo demonstrar que a defesa de Funaro seria “alinhada” com o que pretendia o empresário Joesley Batista.
O doleiro disse ainda que, caso Joesley ou seu advogado discordassem de algum ponto de sua defesa, poderiam, de imediato, interferir e apontar o problema. Na prática, segundo Funaro, “Joesley queria acompanhar de perto, minuciosamente, qual seria a linha da defesa técnica” de Funaro e podia, inclusive, sugerir estratégias, conforme reportagem da TV Globo, que teve acesso a delação de Funaro, apontado como operador do pagamento de propina dentro do PMDB.
De acordo com o depoimento, o alinhamento das duas defesas começou a ser discutido depois que Funaro foi alvo de busca e apreensão em dezembro de 2015.
Três dias depois, Funaro foi à casa de Joesley Batista. O empresário perguntou se havia sido apreendido alguma coisa comprometedora. Na ocasião, os dois começaram a negociar um pacto de silêncio.
Funaro conta que a preocupação de Joesley cresceu exponencialmente. E que Joesley falou “vamos tocando juntos”, “vamos amarrar as pontas”. Revela que na mesma reunião, Joesley e o advogado Francisco de Assis propuseram fazer um contrato guarda-chuva no valor de R$ 100 milhões a fim de dar aparência de legalidade aos negócios já efetuados.
Decisão
Com o avanço da Operação Lava-Jato, Funaro decidiu fazer delação premiada. Segundo Funaro, quando ele começou a negociar com um escritório especializado, sem querer acabou enviando à proposta de honorários para Matriz, que à época ainda era advogado dele.
Após o envio do e-mail, Funaro disse que recebeu uma mensagem do ex-ministro Geddel Vieira Lima, perguntando se o depoente estava fazendo a delação.
Funaro negou e perguntou a razão da indagação. Geddel respondeu, de acordo com Funaro, que a notícia havia chegado ao Palácio do planalto. O delator conta que percebeu que a informação havia sido passada por Mariz a Michel Temer e que ligou para Mariz xingando o advogado pela quebra de sigilo profissional.
Mesmo após a saída de Mariz da defesa, Funaro disse que continuou sendo monitorado quanto a possibilidade de fazer a colaboração.
A delação de Funaro foi um dos elementos usados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) para fundamentar a denúncia contra Michel Temer por obstrução de justiça.
Mariz de Oliveira deixou a defesa do presidente alegando questões éticas por causa da ligação com Lúcio Funaro.
Na denúncia, a procuradoria relembrou que no dia 07 de março de 2017, Joesley Batista se encontrou com Michel Temer, e que o encontro foi para, entre outros assuntos, tratar da situação dos presos Lúcio Funaro e Eduardo Cunha.
Antônio Mariz de Oliveira disse que não se lembra se Funaro levou o advogado Francisco de Assis ao seu escritório. Mas negou que tenha repassado ao presidente Temer informações sobre a delação de Funaro.
A defesa de Lúcio Funaro disse que o ele vem colaborando com as investigações e que só vai se manifestar diante das autoridades.
A defesa da J&F, do advogado Francisco de Assis e de Joesley Batista afirmou que já foram apresentados documentos que complementam os esclarecimentos prestados à PGR e que os clientes continuam à disposição para colaborar com a Justiça.
Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e o Palácio do Planalto não comentaram o assunto.