Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 31 de março de 2025
Em nota, o governo Lula disse que interrompeu a ação assim que ficou sabendo dela, em maio de 2023.
Foto: Antonio Cruz/Agência BrasilUm funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que a atual gestão da agência manteve operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai, inclusive do Congresso, da Presidência da República e de autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu. As informações foram publicadas pelo portal UOL.
O servidor disse que o ataque começou ainda no governo Jair Bolsonaro, mas que continuou durante o governo Lula, com autorização expressa do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, e do diretor interino Saulo de Cunha Moura, que ocupou o cargo entre março e maio de 2023.
Em nota, o governo Lula disse que interrompeu a ação assim que ficou sabendo dela, em maio de 2023.
Depoimento do servidor
Segundo o depoimento, a ação tinha como objetivo obter dados sigilosos sobre valores em negociação no Anexo C do Tratado de Itaipu.
O Anexo C do Tratado de Itaipu estabelece as bases financeiras e de prestação de serviços de eletricidade da usina hidrelétrica binacional, incluindo a fórmula para o cálculo do preço da energia produzida. Esse anexo prevê que, após 50 anos de vigência, suas cláusulas podem ser revistas, o que ocorreu em abril de 2023.
O funcionário relatou o uso de ferramentas de intrusão como Cobalt Strike e o envio de e-mails com engenharia social para capturar senhas, cookies de sessão e acessos de autoridades paraguaias.
Ainda de acordo com o relato à PF, foram invadidos sistemas do Congresso do Paraguai (Senado e Câmara), além da Presidência da República. O servidor disse que as ações foram executadas a partir de servidores hospedados no Panamá e no Chile, e que as ferramentas foram apresentadas em reuniões internas da Abin, com aprovação da alta cúpula.
“O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do Anexo C […]. Foram alvos o presidente do Paraguai, o presidente do Senado e autoridades relacionadas diretamente à negociação”, disse o servidor à PF.
Nota oficial do Paraguai
Em nota oficial, o chanceler paraguaio Rubén Ramírez Lezcano afirmou que não há evidência de que o Brasil tenha promovido ataques cibernéticos contra sistemas do país.
“O Paraguai não tem nenhuma evidência de que o Brasil tenha atacado seus sistemas informáticos”, disse o ministro.
“Temos tranquilidade de que as informações que administramos nas negociações internacionais estão resguardadas.”
Ele destacou que as tarifas de energia já estão acordadas até 2027 e que as negociações do Anexo C de Itaipu seguem dentro do cronograma previsto. Também afirmou que as comunicações com o Brasil são institucionais, e que os órgãos de inteligência dos dois países estão em contato.
“Me informaram que vai haver uma aclaração respectiva de parte do Brasil”, completou o chanceler, após conversa com o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores).