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Fundador do PSOL admite resultado “muito ruim” nas eleições municipais

"Trata-se de um dado da realidade para mim, e o primeiro passo para enfrentar qualquer tragédia é o reconhecimento", disse Alencar. (Foto: Ag. Câmara)

Partido que tem como principal estrela o deputado federal Guilherme Boulos , derrotado na eleição de São Paulo, o PSOL enfrenta uma situação desfavorável em âmbito nacional. Em 2024, a legenda perdeu as poucas prefeituras que comandava e não elegeu nenhum de seus 210 candidatos ao cargo. No saldo, começará o ano que vem sem nenhum município do País.

Para o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), a narrativa do partido que ajudou a fundar é fundamental para o debate político, mas precisa se aproximar da população, sobretudo dos mais pobres, porque “a direita pega a pauta e a caricaturiza”. “O resultado foi muito ruim. Trata-se de um dado da realidade para mim, e o primeiro passo para enfrentar qualquer tragédia é o reconhecimento”, afirmou Alencar.

“Em geral, no País, oito de cada dez prefeitos que tentaram a reeleição tiveram êxito. Então, o que marca esta eleição municipal foi o continuísmo, não se trata, portanto, de um caso exclusivo de São Paulo”, disse.

Reflexão

A presidente do partido, Paula Coradi, minimiza as derrotas. Ela afirma que “uma parte considerável” da população está descrente da política, mas avalia que a sigla deve manter as pautas à esquerda, sem inflexões ao centro.

Entre os psolistas, além de Boulos, apenas Yuri Lucas, candidato em Petrópolis (RJ), conseguiu avançar para o segundo turno em 2024. Acabou derrotado por Hingo Hammes, do PP. O atual prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues (PSOL), sequer chegou à segunda etapa de disputa. A administração da cidade terminou nas mãos do candidato do MDB, Igor Normando.

Na corrida ao cargo de vereador, o partido teve 3.523 candidatos e elegeu 73. Para comparação, a sigla lançou 4.028 candidatos em 2020 e teve 93 eleitos. Naquele ano, o PSOL concorreu a 353 prefeituras e teve sucesso em cinco cidades. Mesmo assim, não conseguiu manter o comando por muito tempo nesses municípios.

“Já há alguns anos, uma parte da sociedade não consegue mais enxergar na política um instrumento de transformação. Eu acho que isso é uma lição sobre a qual a gente precisa refletir bastante”, avalia Coradi. “Uma situação que nos leva a uma reflexão profunda é que quem ganhou em São Paulo foi a abstenção, os brancos e nulos (na soma, houve mais “não-voto” que eleitores de Ricardo Nunes, do MDB). Isso reflete uma crise política que nós estamos atravessando”, ela completa.

Sobre a derrota em São Paulo, Coradi admite que houve “pequenos erros”, mas nada que, na opinião dela, determinasse os rumos da disputa. A líder também discorda da avaliação de algumas lideranças petistas de que uma candidatura mais ao centro seria o ideal na capital paulista, e diz que o partido vai manter suas pautas históricas: “A gente tem esse desafio de pensar essas mudanças na sociedade e no do mundo do trabalho, mas isso não significa que repensar é recuar em relação às nossas bandeiras, ao que a gente pensa. Muita gente tem feito uma análise dizendo que a pauta identitária (nos prejudica). Eu acho que é algo que não cabe nesse balanço, porque as mudanças são muito profundas”.

Para Coradi, Boulos era o “quadro natural” na busca pela prefeitura paulistana e o deputado federal sai da eleição “muito credenciado para liderar o próximo ciclo da esquerda”. Coradi ainda fez reverência à aliança com o PT, afirmando que o partido cumpriu com suas promessas – o PT destinou R$ 45 milhões do fundo partidário à candidatura psolista em São Paulo. Ela descarta, porém, que a aproximação poderia resultar em uma entrada de Boulos na sigla de Lula.

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