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Brasil “Fundo do poço passou, mas a recuperação da economia brasileira é ‘bem mixa'”, disse ex-diretor do Banco Central

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Schwartsman diz que projeções para 2017 e 2018 serão revisadas para cima. (Foto: Reprodução)

A economia brasileira “pegou no breu” e o consumo deve puxar o PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos meses. Essa é a avaliação do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC (Banco Central). Para ele, o fundo do poço já ficou pra trás e há sinais de uma retomada da economia.

Ele disse que o avanço de 0,2% do PIB no segundo trimestre surpreendeu e deve motivar a revisão de projeções de crescimento para o ano. Apesar do movimento parecer de otimismo, Schwartsman lembra que o ritmo de expansão da economia ainda é lento.

Leia a seguir os trechos da entrevista de Schwartsman:

Qual a sua avaliação sobre o resultado do PIB? Já dá para passar a enxergar o copo como meio cheio em vez de meio vazio?

Acho que cristaliza a visão de que a economia já bateu no fundo do poço e começa a se recuperar. O número em si, 0,2%, obviamente não é nada para se soltar fogos. Mas mesmo sendo mais fraco que o primeiro trimestre, as entranhas dos números são melhores.

O que você destaca de mais positivo no resultado do 2º trimestre?

O consumo veio muito bem, o que é um bom sinal porque historicamente é o consumo que sustenta o crescimento do lado da demanda. E do lado da oferta, a gente viu os serviços vindo muito bem. É o maior setor da economia, com cerca de 70% do PIB, e é o grande empregador. Então tem também ali um reflexo acontecendo do lado do emprego, que segue crescendo. Não é um emprego de superqualidade, mas é emprego.

As indicações são de que mesmo que o crescimento não tenha sido muito forte, é que a economia pegou no breu. É uma expressão que o José Roberto Mendonça de Barros usava para dizer quando o fogo pega de vez.

A economia vai ganhar mais tração a partir de agora?

As perspectivas para o consumo são boas: juro em queda, massa salarial em alta, desemprego caindo devagar. Isso gera um cenário que o crescimento do consumo fica mais sólido e ele leva o PIB com ele.

As projeções médias do mercado para o PIB de 2017 e 2018 devem ser revisadas para cima então?

Vai ter que rever, porque com o crescimento da primeira metade do ano, mesmo que o PIB não crescesse nada na segunda metade, o crescimento em 2017 já daria 0,5%. O consenso de mercado hoje é 0,3%. Eu estou até um pouco mais otimista. Acho que podemos ter um PIB na casa de 0,7%, 0,8%, não é impossível para esse ano. Para o ano que vem, o consenso é 2%, mas acho que dá para pensar alguma coisa na casa de 2,5%.

Com o investimento ainda lá embaixo e a demanda interna ainda fraca, de onde virá o impulso para a retomada? Da onde vem o seu otimismo?

Eu não chamaria de otimismo. Crescer 0,7% esse ano e entre 2% e 2,5% ano que vem depois de uma recessão cavalar como a gente teve não é ser otimista. É uma recuperação bem mixa.

Agora os canais estão claros. Um pedaço disso é juro mais baixo, que começa a bater no consumo e o aumento do emprego e da renda, que gera condições para esse impulso inicial. Agora não vai ser muito forte porque não vemos uma perspectiva muito boa para o investimento.

O investimento ainda vai demorar para voltar?

Ainda temos muita capacidade ociosa. Na indústria, e não é só isso. Tem um monte de imóveis que foram construídos e vai ser difícil que se retome o processo de construção civil, por exemplo. O investimento vai ficar fraquinho.

É praticamente consenso de que a recuperação da economia será lenta. A partir de quando a população começará a sentir uma melhora ou o chamado ‘feel good factor”?

Vai depender muito de mercado de trabalho. Com a melhora que teve de janeiro para cá, a gente ainda está com 13 milhões de desempregados. Tem gente pra caramba. Não tem como disfarçar isso. O PIB, eu sempre digo, é um número abstrato. As pessoas no dia a dia não olham para isso, mas para o que está acontecendo no emprego e no poder de compra dos salários, que até melhorou um pouco porque a inflação veio baixa. Já o emprego está melhorando, mas é de má qualidade. Ter emprego e alguma renda é melhor do que não ter, mas não é um negócio que você está tranquilo.

As dificuldades no campo fiscal podem prejudicar a recuperação? Quais são os maiores desafios para garantir a sustentabilidade da retomada?

Temos que avançar na questão previdenciária, tem que avançar na questão de gastos obrigatórios. Se não fizer isso, em 2022 o teto não se sustenta, talvez antes. Essa estratégia de se basear no teto de gastos para fazer o ajuste fiscal vai ser destinada ao fracasso se não houver reformas. Ocorre que em 2018 o país vai ter que escolher se quer continuar nesse caminho ou se quer tentar um caminho diferente. (AG)

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