Em menos de 48 horas, o futebol brasileiro voltou a mostrar o seu pior lado: a violência. Foram cinco incidentes, incluindo quatro ataques a delegações de clubes (Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba) e uma invasão de campo (em Maringá, interior paranaense) por torcedores dispostos a agredir jogadores. Ao menos dois atletas precisaram de atendimento médico.
A Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) pediu à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que medidas mais duras sejam adotadas em incidentes assim. Dentre as propostas está o afastamento das torcidas dos estádios.
No ofício, o presidente da Fenapaf, Alfredo Sampaio, defende a ideia de que o mais adequado, caso não se identifique quem são os autores dos ataques, é proibir a torcida inteira do clube de acompanhar a partida nas arquibancadas;
“No Brasil ficamos estupefatos com esses acontecimentos, mas as ações são lentas e ineficazes”, ressalta. “É necessário maior rigor por parte da CBF e do STJD [Superior Tribunal de Justiça Desportiva]. O primeiro ataque estimula que outros aconteçam, porque não acontece nada. Já com uma torcida afastada, é algo que inibe a violência.
Ataques
A onda de ataques começou na quinta-feira (24), quando bombas atingiram o ônibus que transportava o time do Bahia até o estádio da Fonte Nova para um jogo da Copa do Nordeste. O goleiro Danilo Fernandes teve o rosto machucado por estilhaços e necessitou de hospitalização:
“Precisei tomar remédio para dormir. Eu não conseguia pegar no sono. Eu estava pegando no sono (na noite do ataque) e caiu uma caneta no corredor (do hospital), e eu levantei da cama assustado achando que era alguma bomba. E já veio a lembrança dos meus filhos”.
A polícia identificou os dois carros usados pelos vândalos e os encontrou dentro da sede da organizada Bamor. Um dos veículos pertence ao presidente da torcida, mas ele alegou que estava em Feira de Santana, Interior do Estado. Até agora ninguém foi preso.
Na mesma noite, uma van que transportava jogadores do Náutico sofreu ataque semelhante. Os atletas voltavam do Tocantins, onde jogaram contra o Tocantinópolis e foram eliminados da Copa do Brasil. Ninguém ficou ferido.
A escalada de violência continuou no sábado, chegando até mesmo a provocar um inédito adiamento de Grenal: na chegada ao estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, o ônibus do Grêmio foi atacado com pedras e uma barra de ferro. Um dos objetos atingiu na cabeça do meia paraguaio Villasanti. Resultado: traumatismo craniano leve e concussão cerebral. O jogador recebeu alta no dia seguinte e já participa de treinos leves, mas poderia ter morrido.
Grêmio e Inter se recusaram a entrar em campo e a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) marcar a partida para o dia 9 de março, quarta-feira. Ao menos dois torcedores colorados chegaram a ser detidos, mas acabaram soltos por falta de provas.
No mesmo dia, outro apedrejamento de ônibus foi registrado, no Paraná. O veículo que transportava os jogadores do Cascavel foi atacado por torcedores do Maringá. O vidro traseiro foi destruído e ninguém ficou ferido.
Diretor-executivo de futebol do clube, Marcus Vinícius Beck declarou que, para algo mudar, é preciso que haja união entre poder público, federações e clubes. Ele também destacou que a impunidade faz com que os ataques se repitam:
“É uma situação que preocupa muito. A gente precisa unir forças, que as federações ajudem, precisa que a segurança pública nos ajude e que os responsáveis sejam punidos. Penso que essa situação de impunidade acaba sendo o grande gatilho para esses marginais travestidos de torcedores. Não é a primeira vez que isso acontece e a gente sabe que geralmente são sempre os mesmos que estão envolvidos nesse tipo de situação. Estamos perto de presenciar uma tragédia”.
Invasão de campo
Outro incidente assustador teve como cenário uma partida do Campeonato Paranaense. A partida entre Paraná Clube e União foi interrompida aos 40 minutos do segundo tempo, quando torcedores do Paraná invadiram o gramado para agredir os jogadores. Alguns atletas tentaram reagir mas tiveram que sair correndo para o vestiário.
A Polícia Militar alegou que não tinha condições de dar segurança para a continuidade do jogo e a partida foi encerrada, decretando assim o rebaixamento do Paraná Clube para a série B do Campeonato Estadual – motivo da revolta dos torcedores.
Sampaio também cobrou que os dirigentes assumam mais responsabilidades com seus atletas, que na verdade, são seus funcionários:
“Se o dirigente sabe que esse tipo de situação acontece, blinda o ônibus, chama mais batedores. E sabemos que todo jogo de descenso o clima é tenso. É preciso organizar um esquema de segurança mais elaborada. E isso já tem que ser padrão, tem que ser imposto”.
Em comunicado oficial, que classificou o fato como “Dia da Infâmia”, o Paraná disse que trabalhará para afastar dos estádios os responsáveis pela invasão.