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O futebol gaúcho tenta driblar os prejuízos causados pelas chuvas de maio no RS

As chuvas que atingiram o RS em maio afetaram diretamente o desempenho dos clubes gaúchos em campo. (Foto: Reprodução)

Acostumados a brigar por títulos, os clubes gaúchos este ano tiveram um adversário inesperado. As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul no fim de abril e começo de maio causaram uma tragédia sem precedentes no Estado e levaram a prejuízos financeiros e esportivos que afetaram diretamente o desempenho em campo.

Inter e Grêmio contabilizam perdas milionárias devido aos danos de infraestrutura, custos logísticos e efeitos no rendimento esportivo. O Juventude, outro time do Estado na Série A do Brasileirão, foi menos afetado, mas ainda assim viu os custos subirem com gastos inesperados de logística.

O Inter contabiliza R$ 90 milhões de perdas entre patrimônio, redução do quadro societário, desempenho abaixo do esperado nas competições e gastos extras com logística. O Grêmio calcula os efeitos negativos em R$ 12 milhões, apenas considerando custos de infraestrutura e logística de deslocamento, enquanto o Juventude, com sede em Caxias do Sul, município menos afetado, estima em cerca de R$ 6 milhões os prejuízos.

O Grêmio sofreu pouco com perda de sócios. Depois de superar os 120 mil no ano passado, o montante baixou para 110 mil, ainda um dos maiores da história do clube. “Entendemos inclusive que os sócios são um destaque positivo neste ano”, diz o presidente Alberto Guerra, acrescentando que não houve perda de patrocínio.

Segundo ele, a maior fatia dentro dos R$ 12 milhões está no aumento do custo de logística e nos danos ao patrimônio. “Toda operação para deslocamentos envolveu custos adicionais”, afirma.

Além disso, Guerra diz que todas as sedes do clube foram afetadas, como centros de treinamento, estádio e a loja dentro da Arena. “Todos sofreram danos na sua infraestrutura, o que gerou a necessidade de recuperação e despesas adicionais”, explica Guerra, que cita também o “dano intangível” do desempenho esportivo abaixo do esperado, o que “reduziu em muitos milhões o resultado previsto.”

“Em competições de alto rendimento são os detalhes que fazem a diferença.
Imagine no nosso caso, que passamos 40 dias sem o CT [Centro de Treinamento] e ficamos quatro meses em deslocamentos sucessivos, sem parar para jogar em casa”, diz Guerra, que cita ainda o impacto emocional os atletas que vivenciaram a tragédia.

Para minimizar o efeito, o Grêmio cortou custos e reduziu investimentos em alguns setores. A CBF aprovou R$ 6 milhões para o clube, dos quais R$ 4 milhões já foram desembolsados.

Alessandro Barcellos, presidente do Inter, estima em cerca de R$ 90 milhões os prejuízos em decorrência da enchente. Desse total, R$ 19 milhões foram perdas patrimoniais; R$ 5 milhões por inadimplência de sócios; R$ 25 milhões receitas projetadas de novos sócios que não se realizaram; R$ 33 milhões de prêmios por desempenho esportivo; e R$ 7 milhões em custos adicionais de logística.

Na seara esportiva, Barcellos lembra que o clube foi eliminado precocemente da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, nas quais a previsão era alcançar ao menos as quartas-de-final, o que não se concretizou. O presidente cita as dificuldades logísticas não apenas no lado financeiro, mas no efeito sobre os atletas. Foram 70 dias treinando fora do Beira-Rio, estádio do clube. Em termos de viagens, aumentou o desgaste.

“Tivemos que jogar 12 ou 13 partidas fora de casa [fora de Porto Alegre]. Percorremos 17 mil quilômetros jogando fora”, afirma. “Isso tudo dificultou o nosso desempenho.”

O clube contratou a Bain Company para desenhar uma estratégia para aumentar a receita com ações nas áreas de patrocínio, licenciamento de marca e quadro societário. Ele projeta elevar a receita recorrente do clube – que exclui venda de atletas – dos atuais R$ 300 milhões para algo entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões, sem prazo definido.

O Inter também estuda lançar debêntures, além de contar com a venda de atletas. Este ano, a meta de arrecadar R$ 135 milhões com a venda de jogadores foi atingida. Com isso, a folha de pagamento foi reduzida em R$ 33 milhões. Além disso, a CBF apoiou o clube com R$ 6 milhões devido à tragédia das chuvas. Por fim, Barcellos informa que o clube negocia a renovação de patrocínio-master com o – ele não informou os valores – e ainda há negociações de direito de transmissão do Brasileirão a partir do ano que vem.

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