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Colunistas Gaza: retaliação, excesso e acirramento

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A questão em Gaza, como tantas no mundo, é um triste retrato do lado mais perverso da natureza humana em ação. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A questão em Gaza, como tantas no mundo, é um triste retrato do lado mais perverso da natureza humana em ação. O roteiro do horror, que começou no sangrento 07.10, quando terroristas da Hamas causaram mais de 1.000 mortes em território israelense, usando métodos bárbaros e sequestrando ainda outra centena de vítimas, aprofunda uma cisão que vem de muito longe, nada sugerindo que o ódio recíproco tenda a diminuir, senão muito pelo contrário. A retaliação israelense foi imediata, extrapolando o “olho por olho”, com uma vantagem macabra na proporção que supera hoje vinte palestinos mortos para cada israelense. Por que essa desproporção ainda encontra defesa na resposta necessária contra o agressor, mesmo ao preço de matar e mutilar, em sua maioria, crianças indefesas? Estimam-se em mais de 14.000 crianças mortas até o momento, com quase 4.000 presas embaixo dos escombros.

Em o “Animal Social”, um dos clássicos mundiais no campo da psicologia social, Elliot Aronson, procura responder algumas das nossas perguntas mais inquietantes sobre a natureza humana. Por que uma pessoa gosta da outra? Como surgem o preconceito e a agressividade? O que faz alguém seguir uma organização terrorista, desprezando suas raízes, explodindo o seu próprio corpo em nome de uma seita religiosa dúbia? Por que a expressão agressiva da raiva leva a mais hostilidade? Por que, iniciada a escalada da violência, sangue clama por mais sangue? São, sem dúvida, questões perturbadoras envolvendo a cultura da violência, preconceitos, efeitos da comunicação em massa e muitos outros elementos que nos levam a agir de uma ou de outra maneira.

Segundo Aronson, a explicação está na psicologia humana. Várias pesquisas denotam que o excesso trabalha em nosso prejuízo. O excesso maximiza a dissonância. Quanto maior a discrepância entre aquilo que o ofensor lhe fez e sua retaliação, maior a dissonância, maior a necessidade de lhe causar sofrimento e justificar a forma como o tratou. Quanto mais se aprofunda a diferença da resposta israelense contra o Hamas, mais quem é responsável pelos ataques tentará se convencer de que os palestinos realmente merecem esse sofrimento. Eles precisam odiar os terroristas ainda mais do que eram odiados antes de serem mortos ou para justificar a sua aniquilação ora em curso. O que você imagina, pergunta ele, que os grupos terroristas antiamericanos sentiram após o atentado às Torres Gêmeas? Acha que sentiram compaixão pelos milhares de vítimas do 11.09? Cometer atos de violência aumenta nossos sentimentos negativos sobre as vítimas. Em última análise, é por isso que a violência sempre gera mais violência.

E o que aconteceria se não houvesse excessos? Se a retaliação ficasse razoavelmente controlada e não significativamente mais intensa do que a ação que a provocou? Experimentos confirmam que, quando a retaliação está à altura da provocação ou dano, as pessoas tendem a não difamar ou depreciar o provocador. Obviamente, as situações da vida real, como é o caso da guerra em Gaza, são muito mais complexas. Quase sempre, e Israel confirma isso, a revanche excede a ofensa original, confirmando a regra de que a dor que recebemos sempre parece mais intensa do que a dor que provocamos.

O fato, tristemente constatado pela psicologia social, é que o fosso manchado por dor, ódio e ressentimento, ficou alguns palmos ainda mais profundo na questão envolvendo palestinos e judeus. Considerando que, em tempos modernos, a subjugação completa de inimigos não tem sido observada, a convivência futura que se desenha para a região conflagrada de Gaza e Israel vai demandar um profundo entendimento do impacto que as ações presentes terão na convivência futura. Tudo sugere que a atual carnificina, muito embora não redima a dor dos inocentes envolvidos, de modo especial as crianças, talvez sirva como um mote, mesmo que tardio, para a criação de um estado palestino, assim como Israel, livre e soberano.

edson bundchenEdson Bündchen

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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