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General Heleno disse não ter relação com qualquer um dos eventos investigados pela CPMI do 8 de Janeiro

Heleno silenciou ao ser questionado sobre participação em reunião de Bolsonaro com hacker Walter Delgatti. (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro ouviu nessa terça-feira (26) o ex-ministro do Gabinete Institucional de Segurança (GSI) Augusto Heleno, que chefiou o órgão ao longo do governo passado. O depoimento teve recorde de inscritos no colegiado, com 45 parlamentares, e demorou quase nove horas, com mais uma hora de intervalo para almoço.

Apesar de ter um habeas corpus para permanecer calado, Heleno respondeu parte das perguntas e chegou a se exaltar em alguns momentos e até a proferir palavrões. Ele silenciou diante de questionamento sobre participação em reunião de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti, sobre tentativa de invadir as urnas eletrônicas. O ex-ministro também se esquivou de qualquer responsabilidade em relação aos atos de 8 de janeiro e outros eventos que fizeram parte da escalada golpista.

No início da sessão, ao entrar na sala do colegiado, o general foi aplaudido por parlamentares da oposição. Em sua fala inicial, o militar da reserva disse nunca ter tratado sobre política no GSI, e que não teria condições de dar explicações sobre os atos do 8 de janeiro. Na data, as sedes dos Três Poderes sofreram ataques em uma tentativa de golpe.

O pedido para que Heleno prestasse depoimento faz parte de uma ofensiva da CPI para ouvir militares ligados a Bolsonaro. A intenção dos parlamentares é saber se houve alguma ligação do ex-ministro ou de auxiliares no GSI com os atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes. O foco nos militares também se intensificou, após revelações sobre a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

Ainda durante o depoimento dessa terça-feira, Heleno disse não ter relação com qualquer um dos eventos investigados pela CPI, a partir da data das eleições do segundo turno de 2022.

“Já esclareci que, a partir da meia-noite do dia 31 de dezembro de 2022, véspera da posse do atual Presidente, deixei de ser Ministro de Estado. Daí em diante, não fiz mais qualquer contato com os servidores do GSI ou da Presidência da República. Portanto, não tenho condição de prestar esclarecimentos sobre os atos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2022”, disse em sua declaração inicial à comissão.

Em sua fala, disse:

“Jamais me vali de reuniões, ou palestras, ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou político-partidários com meus subordinados no GSI. Não havia clima para isso”, disse Heleno.

Sobre os ataques à sede da Polícia Federal, no dia 12 de dezembro, ele afirmou que soube pela televisão, “sentado na minha casa”. Ele citou ainda a tentativa de bomba nos arredores do aeroporto de Brasília e disse que não teve qualquer participação.

Heleno rebateu ainda Gonçalves Dias, o GDias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) de Lula e disse que colaborou com a transição de governo no final do ano passado. Não deixando nada “sob o tapete”.

“Tenho plena consciência de que ele recebeu todos os dados para começar seu trabalho nas melhores condições possíveis”, disse Heleno.

Ao comentar sobre o acampamento no Quartel-General do Exército, em Brasília, local em que os manifestantes golpistas se abrigaram antes e depois dos ataques golpistas em Brasília, Heleno disse que a movimentação era acompanhada pela Defesa, e não eram responsabilidade do GSI. O ex-ministro de Bolsonaro nega ter ido a acampamento em qualquer ocasião:

“Também declaro e assino embaixo: jamais estive no acampamento que foi realizado em frente ao que a gente chama de Forte Apache. Eu nunca fui ao acampamento, não por falta de tempo, mas por falta de condições de participar do que era, do que realizavam no acampamento, que, pelo que se sabia, eram atividades extremamente pacíficas, ordeiras. Eu nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional. Eu sempre achei que era uma manifestação política, pacífica e que não poderia ser tratado dessa maneira.”

Delação

Questionado sobre a participação de Mauro Cid em reuniões com Bolsonaro e militares, Heleno afirmou que ele era “apenas um ajudante de ordens” e que não sabe o que ele disse em sua delação premiada.

“Cid era apenas um ajudante de ordens do ex-presidente. Ou seja, cumpria ordens”, disse Heleno.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) confrontou a declaração com uma foto de Mauro Cid em uma reunião com Bolsonaro, comandantes das Forças Armadas e Heleno, no Palácio do Planalto, em 2019. O militar disse que ajudante de ordens não participava ativamente dos encontros e o comparou aos servidores que servem café durante a sessão da CPMI.

Questionado pelo parlamentar sobre a participação em reunião de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti Neto, em que teria sido discutida a possibilidade de uma invasão das urnas eletrônicas no ano passado, Heleno silenciou.

“O senhor esteve na reunião com o hacker? O senhor tomou café da manhã com o hacker junto com Bolsonaro? Mauro Cid diz que o senhor estava lá na reunião que tomou café com o hacker”, questionou Correia.

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