O ex-ministro Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo de Jair Bolsonaro, se irritou com perguntas da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.
Após a relatora questionar se ele havia mudado de ideia e reconhecia o resultado das urnas que deu vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele se virou ao advogado que o acompanha na sessão e começou a proferir palavrões. As falas, contudo, foram captadas pelo microfone da comissão.
“Ela fala as coisas que ela acha que estão na minha cabeça. Porra, é para ficar puto. Puta que o pariu”, afirmou o general.
Mesmo com uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio, Heleno fez um discurso inicial, e respondeu às perguntas da relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD).
Ao entrar na sala do colegiado, o general foi aplaudido por parlamentares da oposição. Em sua fala inicial, o militar da reserva disse nunca ter tratado sobre política no GSI, e que não teria condições de dar explicações sobre os atos do 8 de janeiro. Na data, as sedes dos Três Poderes sofreram ataques em uma tentativa de golpe.
“Jamais me vali de reuniões ou palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou políticos partidários com meus subordinados no GSI. Não havia clima para isso e o único ser político do GSI, era eu mesmo”, disse Heleno.
Deputada trans
Ainda durante a sessão, Augusto Heleno se referiu a deputada federal transexual Duda Salabert (PDT-MG) com um pronome masculino, desrespeitando sua identidade de gênero.
Na ocasião, a deputada afirmou que o general coordenou a Operação Cunho de Ferro no Haiti, que teria resultado na morte de dezenas de crianças e mulheres. Heleno, por sua vez, negou as acusações:
“Esta afirmativa é mentirosa. Estou querendo proteger, vossa excelência. Se eu quiser vou para a justiça e processo o senhor e coloco o senhor na cadeira”, disse.
Salabert respondeu sobre o erro de pronome:
“É senhora, e não senhor, e não vem me ameaçar não”, rebateu.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) fez coro em apoio à parlamentar.
Após o ocorrido, a deputada voltou a falar sobre o currículo do general.
“Se o senhor e outros militares escaparam da anistia da Ditadura Militar, não vão escapar agora. Se há Justiça no Brasil, saíra preso no final dessa CPI”, disse.
A oposição interrompeu a fala da parlamentar. “Ele nem é investigado”, disse Abílio Brunini (PL-MT), que foi retirado do plenário pelas interrupções recorrentes.
Após o intervalo de almoço para a sessão, Salabert revelou que recebeu um pedido de desculpas por parte do depoente:
“O general Augusto Heleno pediu desculpas por ter tratado no masculino. E na minha posição, não é essa questão mais importante: o que estamos discutindo aqui é muito maior, é o futuro do país.”