Estamos no meio da maior pandemia dos últimos cem anos e os impactos econômicos, sociais e políticos ainda são impossíveis de calcular. Entretanto, como toda crise, essa também será superada e o mundo se defrontará com inéditos desafios, nenhum talvez maior do que alocar com inteligência os investimentos futuros em educação, saúde, segurança e infraestrutura, além de estreitar laços de maior cooperação e apoio entre as nações.
Wilhelm Barkhoff, pensador alemão morto em 1994, dizia que “o medo de um futuro que tememos só pode ser superado com imagens de um futuro que queremos”. Esse futuro que almejamos não será concretizado somente a partir de um desejo, por mais genuíno e legítimo que seja. É preciso, antes de tudo, que haja condições objetivas para que ele ocorra com sucesso. Nessa perspectiva, especialmente após um evento de tamanha magnitude como a atual pandemia do Coronavírus, a capacidade de bem gerir será vital e, juntamente com outras condições materiais, tecnológicas e de ambiente regulatório, compõem o arcabouço essencial para um futuro de maior prosperidade para indivíduos, sociedade e a própria Nação.
Gerir com eficácia significa ter as competências necessárias para equilibrar demandas conflitantes, complexas e muitas delas mutuamente excludentes. Fazer as escolhas certas é fundamental. O consagrado pensador, Peter Drucker, alertava que “não há nada mais inútil do que fazer bem feito aquilo que nunca deveria ter sido feito”. Num ambiente de maior escassez de recursos que advirá da atual crise da Covid-19, esse alerta soa bastante oportuno para gestores públicos ou privados. O Brasil não pode mais admitir as centenas de exemplos de obras inacabadas e o mar de desperdício na aplicação do dinheiro público. Cada centavo, a partir de agora, terá que ser aplicado com eficiência, austeridade, visão estratégica e sustentabilidade.
Essa quase imposição de maior racionalidade na alocação de capital torna a gestão eficaz um imperativo de sobrevivência organizacional, quer para nações, empresas ou indivíduos, e coloca em xeque o falso dilema de que a boa gestão é atributo do setor privado, cabendo ao segmento estatal a imagem de gestor ineficiente e ineficaz. Não há mais espaço para essa dicotomia. Ambos os setores, público e privado, serão submetidos à dura prova de maior eficiência, maior transparência, maior compromisso com a ética, sob o olhar atento de uma sociedade ainda mais vigilante e consciente dos seus direitos.
A nova moldura do ambiente de negócios que emergirá da atual pandemia vai requerer dos indivíduos um novo posicionamento, sintonizados com mudanças inéditas e carentes de abordagens criativas, não contaminadas por visões já superadas no tempo. Será preciso, em muitos casos, uma completa auto-reinvenção de indivíduos e organizações. Novas profissões irão surgir e outras desaparecer, impulsionadas pela crise que está encurtando rapidamente os ciclos de vida de produtos e processos, a exemplo do aumento exponencial do trabalho via “Home Office”, tele-entregas, formas originais de produção e modelos de emprego. A demanda por conhecimento especializado descortinará novos e promissores estímulos à ciência e à pesquisa. O horizonte que se avizinha aponta claramente para uma condição inadiável para pessoas, organizações públicas e privadas: o desafio de gerir com maior senso de cooperação, visão sistêmica e um profundo entendimento de que gestão sem um sentido ético e humanizado, não produzirá os resultados que os novos tempos reclamarão.