Terça-feira, 11 de março de 2025
Por Redação O Sul | 10 de março de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu aliados no Palácio do Planalto para dar posse a Alexandre Padilha na Saúde e Gleisi Hoffmann na Secretaria das Relações Institucionais, as primeiras trocas de outras que devem ocorrer na equipe ministerial. O evento foi concorrido, mas marcado por algumas ausências notadas, como de alguns líderes de partidos aliados ao governo. A escolha de Gleisi e Padilha, dois petistas, foi criticada nos bastidores por não atender siglas do Centrão que reivindicam mais espaço na Esplanada.
Ao discursar no evento, Gleisi tentou amainar a imagem de radical ao fazer acenos ao ministro Fernando Haddad (Fazenda), com quem já viveu embates. A escolha de Lula pela agora ex-presidente do PT foi vista por aliados como uma guinada à esquerda do governo, em especial pelas críticas que ela fez a medidas econômicas tomadas ao longo destes dois anos de mandato.
“Tenho plena consciência do meu papel, que é da articulação política. Estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar nas consolidações das pautas econômicas do governo. Pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da renda”, disse Gleisi, acrescentando que “cumprirá acordos” com o Congresso. “Devemos fazer política para somar, respeitando adversários, construindo alianças e cumprindo acordo legitimados no interesse do país e da população.”
A principal pauta do Ministério da Fazenda para 2025 é aprovar a reforma da renda, que prevê isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. O texto ainda está em discussão no governo.
A nova ministra e Haddad já viveram embates no governo, com críticas dela à política econômica. Para distensionar o ambiente, Gleisi ligou para o colega de Esplanada assim que foi anunciada no cargo, há dez dias.
O atrito entre os dois veio à tona no primeiro ano de mandato, em 2023, quando Gleisi fez ressalvas internas ao novo arcabouço fiscal apresentado por Haddad. Em dezembro daquele ano, o PT, comandado por ela, publicou uma nota criticando o “austericídio fiscal”. Ela negou posteriormente se tratar de uma crítica ao governo.
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), participaram da posse e foram saudados pela nova ministra.
“Nós vamos ter uma atuação conjunta em defesa do povo e do País. Presidente Hugo, presidente Alcolumbre, com vocês quero manter a relação respeitosa, franca, solidária e direta. Não tenham dúvidas que estarei sempre aqui para conversar, ouvir críticas e acolher sugestões”, disse Gleisi.
A nova titular da articulação política também fez um agradecimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, relator na Corte das investigações sobre a trama golpista.
“Ao fim daquela duríssima campanha de 2022, a democracia venceu nas urnas pela vontade popular, e venceu a trama golpista do 8 de Janeiro. Quero reconhecer o papel do Alexandre de Moraes na defesa da democracia. O Brasil é dos brasileiros e brasileiras.”
Já Padilha, que assumiu a Saúde no lugar de Nísia Trindade, entra com a missão de entregar uma nova marca ao terceiro mandato de Lula e afirmou ter como obsessão a diminuição do tempo de espera por atendimento especializado no Brasil.
“Chego ao Ministério da Saúde com uma obsessão: reduzir o tempo de espera para quem precisa de atendimento especializado no nosso País. Todos os dias vou trabalhar para buscar o maior acesso e o menor tempo de espera para quem precisa de atendimento especializado. Não há solução mágica para um gargalo que ultrapassa décadas”, discursou ele.
A “obsessão” do novo ministro é uma réplica do que Lula já vem dizendo nos bastidores nos últimos meses, quando passou a cobrar enfaticamente de Nísia Trindade que gostaria de ver deslanchar o programa voltado a ampliar o atendimento especializado pelo SUS. O presidente vê nessa política pública uma chance de estabelecer uma nova marca para sua terceira gestão.
Padilha entra na Saúde com a missão de entregar uma nova marca no terceiro mandato de Lula. Como ministro de uma das pastas com o maior orçamento do governo, o ex-ministro da SRI deverá lidar com um Congresso empoderado diante de uma base governista fragilizada.
Já Gleisi deve assumir embates políticos do governo e terá a missão de costurar alianças para a campanha presidencial de 2026, tanto para o caso de Lula disputar um novo mandato como para o de ele indicar outro nome para a sucessão.
A aliados, Gleisi tem afirmado que no novo cargo terá como preocupação central trabalhar na articulação política do governo e não interferir nas medidas econômicas. O receio, porém, de pessoas próximas a Haddad é que, com gabinete no Palácio do Planalto e despachos quase diários com Lula, a ministra da SRI influencie o presidente a se afastar da linha de responsabilidade fiscal defendida pelo titular da Fazenda.(O Globo)