Domingo, 09 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de fevereiro de 2025
A possível fusão entre a Gol e a Azul no Brasil pode fazer com que os preços das passagens aumentem ainda mais. De acordo com o economista Edgar Leonardo, professor do curso de Administração do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), concluído, o negócio diminuirá ainda mais a concorrência no setor de aviação brasileiro, refletindo na alta dos custos para o consumidor.
Considerando dados do relatório de demanda e oferta da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), caso se concretize a fusão, em Pernambuco, cerca de 80% dos voos nos aeroportos do estado estarão nas mãos de uma só empresa. No estado, a Latam tem uma participação de apenas 19%. Já a Gol tem 20% e a Azul 60%. Desde janeiro de 2024, a Gol está em recuperação judicial nos Estados Unidos e negocia agora uma associação comercial com a Azul.
Leonardo explica que o Brasil tem basicamente três empresas de aviação operando. Ele faz um comparativo em relação ao cenário competitivo nos Estados Unidos, ontem quatro grandes empresas (American Airlines, Delta Air Lines, Southwest e United Airlines) têm uma média de 70% do mercado; os 30% restantes estão distribuídos em várias outras empresas consideradas de baixo custo e que operam em distâncias mais curtas.
Tendo esse cenário como base, o economista aponta que o Brasil, mesmo com apenas três grandes companhias, toda vez que alguma delas toma uma medida é considerada como “normal” tendo como parâmetro as empresas europeias, mas essas dão direito a transporte de bagagem, algo que não está acontecendo nos voos domésticos brasileiros. “Temos, de fato, aqui, um oligopólio, não tem desculpa. Atualmente temos três empresas e serão apenas duas com a possível fusão”, aponta. O professor detalha ainda que o oligopólio é caracterizado pela capacidade que as empresas têm de dominar o mercado e cobrar um preço elevado.
Ainda segundo Leonardo, o cenário nacional não permite o aumento da concorrência, algo que poderia favorecer o barateamento dos preços das passagens. “O Brasil só vai conseguir diminuir o preço na hora em que promover a concorrência. O ministro de Portos e Aeroportos (Silvio Costa Filho) tinha que estar envolvido nessa questão para simplificar a entrada de empresas estrangeiras no Brasil, que é um grande problema, pois o país tem uma legislação específica, que exige percentual de participação de empresários brasileiros”, afirma.
Ele ressalta que com a possível fusão, esse problema gerado pela baixa concorrência acaba sendo ampliado, gerando ainda a diminuição da qualidade do serviço oferecido pelas companhias.
O combustível de aviação no Brasil é um dos mais caros do mundo e isso encarece a operação do transporte no país. Segundo o economista, isso ocorre porque o país cobra tributos acima da média mundial para a aviação, algo que também poderia ser avaliado e melhorado pelo Governo Federal para promover viagens mais baratas e aumentar a concorrência no país.
“Os Estados Unidos tem mais de 200 refinarias de querosene de aviação, já o Brasil tem nove, e sete são da Petrobras. Ou seja, a gente depende, de novo, de um oligopólio para entregar combustível de aviação”, compara.
Já de acordo com o administrador e vice-presidente do Conselho Regional de Administração de Pernambuco (CRA-PE), Jefferson Henrique, não necessariamente o oligopólio ficará maior, já que ambas as empresas estão com déficit fiscal. Então, elas não estão com “robustez” para poder fazer uma elevação de preço.
Porém, de acordo com ele, o aumento do preço das passagens pode acontecer em médio ou longo prazos, pois com a possível fusão, essas empresas aumentam o seu poder de barganha, podendo ou não repassar isso para os consumidores, “melhorando” assim os valores das passagens.
Em relação à possibilidade de aumento das passagens diante da fusão, Jefferson aponta que existe o Conselho de Administração Nacional (Cade) que avalia os riscos que podem ocorrer com a fusão de grandes conglomerados.
“Existe o risco de quando surgem essas grandes fusões, do mercado ser penalizado e pagar o preço. Por isso a importância justamente do Cade fazer essa avaliação, analisar os pontos. Muitas vezes o Cade não aprova 100% da compra para não dar condição majoritária para que a empresa tenha total influência sobre as tomadas de decisão”.
Na quinta-feira (6), o ministro de Porto e Aeroporto, Silvio Costa Filho, declarou que o governo federal calcula que o processo de fusão entre as companhias aéreas Gol e Azul seja concluído em um prazo de 12 meses. A Azul e a controladora da Gol, a Abra, anunciaram a celebração de um “memorando de entendimento”, sinalizando que pretendem realizar uma fusão.
Para ser concluído, o processo precisa de acordos definitivos, a finalização do processo judicial da Gol nos Estados Unidos e também a aprovação do Cade. As informações são do Diário de Pernambuco.