Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2024
Nos últimos três anos, a Polícia Civil de São Paulo prendeu 52 mulheres usadas por quadrilhas como iscas para atrair, sequestrar e extorquir homens que caíram no “golpe do amor” na capital e Grande São Paulo.
Em 2021, seis mulheres foram presas. Em 2022, 19 acabaram detidas. E no ano passado, ocorreram 25 prisões do tipo. O levantamento foi feito pela Divisão Antissequestro (DAS), especializada em investigar esse tipo de crime.
Nessa quinta-feira (15), mais duas mulheres acusadas de dar o golpe foram presas pela DAS. Uma delas é Leticia Nicolau Gomes, que já havia sido detida em março de 2023 pelo mesmo crime. Na época, a Justiça concedeu prisão domiciliar a ela.
Mas, segundo a investigação, Letícia continuava enganando homens para levá-los a emboscadas, onde seriam feitos reféns até que transferissem dinheiro para contas de “laranjas” ou dos sequestradores. Ao todo, ela já teria feito seis vítimas.
Além disso, a Divisão Antissequestro procura mais uma mulher envolvida no “golpe do amor”, como o crime do aplicativo de relacionamento ficou conhecido no jargão policial.
Os policiais da DAS ainda monitoram as ações desses grupos criminosos com as demais delegacias distritais de São Paulo e de outras cidades da região metropolitana. Entre 2021 e janeiro deste ano, 168 homens foram vítimas dessas quadrilhas na Grande São Paulo. Cinco deles acabaram mortos pelos sequestradores.
Perfil dos criminosos
Não há registro de vítimas mulheres. Os bandos são todos comandados por homens. Nesse mesmo período, ao menos 460 deles foram presos pela polícia. Além de extorsão mediante sequestro, também foram indiciados por organização criminosa, lesão corporal e tortura.
Estatisticamente, mulheres cometem menos crimes do que homens no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 8.658 mulheres estavam no sistema prisional em 2022, o que representa 4,6% do total da população carcerária masculina (186.698 homens).
Quando os primeiros casos do “golpe do amor” começaram no estado, os homens se passavam por mulheres. Os bandidos entravam em aplicativos de relacionamentos, pegavam fotos de garotas aleatórias e desconhecidas. Depois, abriam um perfil falso e faziam contatos com jovens e senhores, com idades entre 25 a 65 anos, para enganá-los. Na sequência, chamavam-nos para encontros com mulheres que nunca existiram.
No local combinado, esses homens eram sequestrados por bandidos encapuzados e armados. No cativeiro, eram obrigados a passar senhas de contas bancárias para fazer transferências por PIX. Só depois disso, as vítimas eram libertadas.
Com o passar do tempo, homens que acessam sites de relacionamento perceberam o golpe e passaram a tomar medidas de segurança que dificultaram as ações dos criminosos. Mas as quadrilhas também se aperfeiçoaram e buscaram alternativas para convencer as vítimas a deixar suas casas e ir para falsos “dates”.
Para isso, segundo a Divisão Antissequestro, os bandidos passaram a convocar esposas, namoradas e amigas para os golpes. Elas têm entre 20 a 30 anos de idade. Em troca de parte do dinheiro roubado dos homens que ajudaram a enganar, algumas mulheres aceitam participar do esquema.
Modus operandi
Para ganhar a confiança dos homens com quem deram “match” nas plataformas digitais, elas são orientadas pelas quadrilhas a criar perfis com suas fotos, mas usando nomes falsos nas redes sociais. Depois enviam áudios, atendem videochamadas e até vão a encontros em locais públicos com as potenciais vítimas.
Tudo para convencer esses homens de que as mulheres das fotos que os atraíram nos aplicativos são “reais”.
Após conquistarem a confiança dos homens, essas mulheres podem entrar em seus carros e ir com eles para outros locais. Algumas sugerem supostos motéis, ou pedem que eles as deixem em suas supostas casas. Mas, em vez disso, os pretendentes encontravam criminosos armados bloqueando os trajetos dos veículos e os abordando com violência. Em seguida, são sequestrados e ameaçados até transferirem dinheiro para a quadrilha.