Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 7 de fevereiro de 2022
No início, tudo eram flores. Após o “match” no Tinder, o homem convida a mulher para um jantar num hotel de luxo. Ele diz que é filho de um magnata dos diamantes em Israel e lamenta quando descobre que precisará fazer uma inesperada viagem a negócios. Na cena seguinte, os pombinhos dividem um jatinho. E o conto de fadas termina alguns meses depois, sem final feliz.
Israelense que deixou seu país de origem em 2011, após ser indiciado por fraude, Shimon Hayut, de 31 anos, é investigado por um complexo esquema criminoso praticado por meio do mais famoso aplicativo de encontros amorosos. Fingindo-se passar por Simon Leviev, herdeiro do magnata Lev Leviev, o rapaz seduzia mulheres e depois afirmava correr perigo. Revelava, então, que estava sendo perseguido por rivais no negócio e pedia para usar o cartão de crédito das moças, por um período curto. Assim, roubou mais de US$ 10 milhões.
A história está contada no documentário “O golpista do Tinder”, lançado pela Netflix na última semana. Desde a repercussão do caso, revelado por reportagem de um jornal norueguês, o homem foi banido do aplicativo de namoro. “Realizamos investigações internas e podemos confirmar que Simon Leviev não está mais ativo no Tinder sob nenhum de seus pseudônimos conhecidos”, comunicaram representantes do Tinder, na última sexta-feira.
Três vítimas do vigarista ressaltaram que foram ludibriadas pela jeitão afetuoso do homem, que dizia querer formar uma família com cada uma delas. As mulheres, que acreditavam viver um conto de fadas, perderam entre US$ 30 mil e US$ 250 mil após realizarem transferências para Hayut. Todas recorreram a empréstimos e estouraram os limites dos cartões de crédito para ajudar o criminoso, que se dizia apaixonado por elas.
Criminoso dará a própria versão da história
O homem, que foi preso entre 2015 e 2017 na Finlândia – por aplicar golpes financeiros em três mulheres –, está hoje longe das grades. Em 2019, após ser detido com um passaporte falso na Grécia, o criminoso foi condenado a 15 meses de prisão em Israel, seu país de origem. Ele cumpriu apenas cinco meses da pena devido ao “bom comportamento” e a uma política que visava diminuir a lotação nos presídios em tempos de Covid-19.
Shimon Hayut, aliás, mantém ativo um perfil no Instagram. Na manhã desta segunda-feira, o israelense publicou, por meio do Stories, uma mensagem em que avisava que dará a própria versão da história na próxima sexta-feira (11). “Se eu fosse uma fraude, por que eu iria aparecer na Netflix? Quero dizer, eles deveriam ter me prendido quando ainda estavam filmando. É hora de as senhoras começarem a dizer a verdade”, ele escreveu.
Pouco depois da publicação, na manhã de segunda-feira, o israelense fechou seu perfil no Instagram. A conta exibia fotos do criminoso em viagens, restaurantes, hotéis, carros e aviões de luxo.
À revista Variety, a Netflix revelou que pretende transformar o documentário num longa-metragem. O assunto ainda está sendo negociado com produtores.
“Ele era magnético”
Cecilie Fjellhøy, uma das vítimas do vigarista, conta que jamais imaginou que o homem não era quem dizia ser. “Ele era simplesmente magnético. Parecia superinteligente e ambicioso, e todos que eu conhecia o apoiavam”, afirmou ela, em entrevista à revista britânica “Stylist”.
“Ele mandava lindos buquês para o meu apartamento e me enviava mensagens todas as manhãs”, acrescentou a mulher. “E eu sou uma otária que curte romances antiquados, então, de certa forma, era a vítima perfeita. Ele sabia como me enrolar”, afirmou.
As coisas mudaram para Cecilie depois que Hayut alegou que havia tido problemas com profissionais da indústria de diamantes, convencendo-a a permitir que ele usasse seus cartões de crédito. Na ocasião, Cecilie se desesperou ao receber imagens do guarda-costas do namorado com a cabeça sangrando, como se tivesse sofrido ameaças violentas.
Vítima ainda está no Tinder
O caso ganhou novo rumo depois que a, uma das namoradas do criminoso, leu, por acaso, uma reportagem com denúncias contra o israelense. À época, em 2019, a mulher informou para a polícia que o rapaz estava viajando para a Grécia.
Hoje, Ayleen, Cecilie Fjellhøy e Pernilla Sjoholm, as três vítimas que aparecem no documentário “O golpista do Tinder”, ainda pagam as dívidas que contraíram enquanto se relacionaram com Hayut. No último domingo (6), o trio lançou uma vaquinha, na internet, para tentar arrecadar 600 mil libras, o equivalente a mais de R$ 4 milhões.
Cecilie, aliás, criou uma organização sem fins lucrativos em prol da conscientização sobre fraudes na internet. A ONG pretende “criar mudanças na legislação e ajudar as vítimas a obter ajuda adequada, tanto mental quanto juridicamente”.
“Desnudar-se para um público tão grande é assustador. Então, ver a manifestação de apoio de tanta gente é simplesmente incrível”, escreveu Cecilie, em post no Instagram. “Essas lágrimas não são de fraqueza, e podem ser curativas e poderosas. Estou grata por, finalmente, ser vista como um ser humano”, afirmou ela.