Segunda-feira, 31 de março de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2025
Ela não causa dor, não dá sintomas óbvios e, muitas vezes, só é descoberta por acaso. Mas a gordura no fígado, também conhecida como esteatose hepática metabólica, está longe de ser inofensiva. Um estudo conduzido por pesquisadores suecos, publicado no Jornal de Hepatologia da Associação Europeia para o Estudo do Fígado, revelou que a condição pode dobrar a taxa de mortalidade por qualquer causa — seja por complicações no próprio fígado, como o câncer hepático, ou por doenças que vão além do órgão, como as cardiovasculares.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores acompanharam mais de 13 mil pessoas com gordura no fígado entre 2002 e 2020 e compararam os dados com um grupo de 118 mil pessoas sem a doença. Ao longo dos 18 anos de estudo, a taxa de mortalidade entre aqueles com a condição foi, em média, 1,85 vezes maior do que no grupo sem a doença. Ou seja, a proporção de pessoas que morreram nesse período foi quase o dobro entre aqueles com gordura no fígado.
Além disso, no primeiro ano após o diagnóstico, o risco de morte entre os indivíduos com o quadro foi três vezes maior em comparação àqueles da mesma idade e gênero sem a condição – o que sugere que, em muitos casos, a doença só foi identificada quando já estava em um estágio mais avançado.
“A doença hepática esteatótica é a doença hepática crônica mais comum e uma das principais causas de morbidade e mortalidade relacionadas ao fígado no mundo”, destaca o líder do estudo Axel Wester, professor em epidemiologia com foco em doenças hepáticas do Instituto Karolinska. “Por outro lado, as pesquisas anteriores sobre mortalidade em pacientes com esteatose hepática metabólica eram pequenas e focavam apenas nas mortes relacionadas ao fígado. Isso nos motivou”, conta.
E engana-se quem pensa que apenas pessoas acima do peso têm esse problema. Mesmo pacientes magros podem desenvolver gordura no fígado, especialmente se houver histórico familiar de diabetes ou se o metabolismo da glicose e da insulina não estiver funcionando bem (como no pré-diabetes). Além disso, alguns medicamentos, como corticoides e tamoxifeno, podem contribuir para o quadro. O álcool também é um fator importante e, quando combinado com alterações metabólicas, pode agravar ainda mais a condição.
Fora o risco geral de mortalidade, os pesquisadores analisaram 11 causas específicas de morte, como câncer, infecções, doenças cardiovasculares e respiratórias, distúrbios endócrinos e até transtornos de saúde mental, incluindo demência.
As maiores associações foram com câncer de fígado, com um risco de morte até 35 vezes maior. Mas, no longo prazo, os maiores responsáveis pelas mortes foram o câncer fora do fígado e doenças cardiovasculares. “Ou seja, o problema vai muito além do fígado, o que significa que não podemos focar apenas nele ao tratar os pacientes”, opina Wester.
O estudo também separou os pacientes com cirrose, uma das complicações da gordura no fígado. Entre os participantes, 3,3% tinham cirrose compensada (fase inicial da doença) e 1,4% estavam com cirrose descompensada (fase grave, quando o fígado já não consegue mais cumprir sua função). Os dados apontam que, em 15 anos, 84,8% dos pacientes com cirrose descompensada morreram. Nos casos de cirrose compensada, a mortalidade foi de 74,9%. Já entre aqueles sem cirrose, a taxa foi bem menor, mas ainda considerável: 25,3%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.