Ícone do site Jornal O Sul

Governador afastado declarou que assim que a manifestação começou a sair do controle, deu ordem para esvaziar o prédio do Congresso e prender os vândalos

Rocha pretende assumir a responsabilidade pela indicação do novo secretário de Segurança Pública. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), negou, em depoimento à Polícia Federal, “qualquer tipo de conivência” com os atos radicais em Brasília e afirmou que foi a favor da remoção dos acampamentos em frente ao Quartel-general na capital federal, mas o Exército foi contra. A área é jurisdição das Forças Armadas.

Ibaneis foi ouvido por cerca de duas horas e meia sobre a invasão e depredação das sedes dos três Poderes no domingo (8). Questionado sobre as concentrações na porta do quartel, o governador afastado disse que defendeu a retirada das estruturas antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1.º. Partiu do acampamento a marcha de radicais que vandalizaram Congresso, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto.

O delegado questionou se Ibaneis sabia dos protestos e do risco de atos violentos. Ele negou ter sido omisso e afirmou que não tinha conhecimento da possibilidade de ações extremas. Segundo ele, os órgãos de segurança do DF estavam cientes da manifestação e prepararam um protocolo integrado de ações. Disse ainda que, como gestor, não participou das reuniões para elaboração desse plano e não tinha a atribuição de “examinar em minúcias” questões operacionais de segurança.

Ibaneis também relatou que, pouco antes da invasão, recebeu a informação de que a situação estava controlada. Em áudio, compartilhado com os investigadores, o então secretário da Segurança em exercício, Fernando Oliveira, diz que a mobilização transcorria de forma “tranquila”. Ibaneis declarou que recebeu mensagens do ministro da Justiça, Flávio Dino, alertando sobre a chegada de ônibus a Brasília, e que a informação foi repassada à Secretaria de Segurança.

Pela TV

O governador afastado declarou que acompanhava os atos pela televisão e, assim que a manifestação começou a sair do controle, imediatamente deu ordem para que todas as providências fossem tomadas para esvaziar o prédio do Congresso e prender os vândalos.

Ibaneis foi questionado sobre a atuação das forças de segurança do DF, que teriam sido lenientes com os extremistas. Ele afirmou que foi “surpreendido” pela conduta de alguns PMS, mas que não poderia ser responsabilizado pela “sabotagem”. Sobre seu ex-secretário Anderson Torres, declarou que “perdeu a confiança” no auxiliar porque ele estava “ausente” no dia dos atos.

O depoimento foi marcado a pedido da defesa de Ibaneis. Os advogados Cleber Lopes e Alberto Zacharias Toron disseram que entregaram documentos que comprovam as informações prestadas. Ibaneis foi afastado por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Novo inquérito

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acolheu pedido da Procuradoria-geral da República e determinou a abertura de inquérito para apurar supostas “condutas omissivas e comissivas” do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), do ex-secretário da Segurança Pública Anderson Torres, do ex-secretário interino da pasta Fernando Oliveira e do ex-comandante-geral da Polícia Militar do DF Fábio Augusto Vieira.

Em despacho publicado na sexta (13), Moraes dá dez dias para a Polícia Federal apresentar relatório de provas já coletadas, “identificando agentes com foro por prerrogativa de função que, em tese, podem ter concorrido para os delitos em apuração”. O ministro ainda determinou que o interventor da segurança do DF, Ricardo Capelli, preste esclarecimentos sobre as condutas dos agentes. O Ministério Público no DF já apura omissão do Alto-comando da PM “que possibilitou ou facilitou atos extremistas”.

Apesar de Ibaneis possuir foro no Superior Tribunal de Justiça, a Procuradoria alegou que a competência é do STF em razão de ser “possível” que ele “tenha agido em concurso de pessoas com outras autoridades com foro” na Corte máxima.

Sair da versão mobile