Sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2024
Condenado em primeira instância pela Justiça Eleitoral, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), usou a coletiva de imprensa sobre o caso para reiterar seu plano de concorrer à Presidência da República em 2026. A declaração ocorre após a 1ª Zona Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) ter decidido, em primeiro grau, que houve abuso de poder econômico nas eleições municipais. Ele reiterou ter respeito pela sentença da juíza Maria Umbelina e disse que recorrerá nas instâncias superiores.
“Em março eu lançarei minha candidatura à Presidência da República e depois do carnaval estarei me colocando pelo União Brasil. Tenho viajado o Brasil debatendo vários temas.”
O governador também usou a decisão que determinou sua inelegibilidade para criticar adversários políticos, como o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), e o presidente Lula (PT). O primeiro alvo foi Rogério Cruz, que ficou em sexto lugar nas eleições deste ano. Ele enfrenta uma forte crise na saúde e seu secretário, Wilson Pollara, foi preso recentemente por suspeita de fraudes em contratos da pasta voltada ao tema.
“Em relação ao fato que está sendo colocado, vocês sabem muito bem que o que está acontecendo em Goiânia já estava acontecendo há seis meses. Tanto é que está tendo intervenção na saúde. Por isso, eu reuni vereadores eleitos e suplentes para tratar de um assunto extremamente delicado, porque a discussão já existia diante do colapso da máquina. Não foi uma reunião com intuito eleitoral, mas de tratar uma preocupação que tenho com a situação de Goiânia”, disse o governador.
Caiado reiterou que os jantares não tiveram intuito eleitoral e citou um caso do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), que recebeu aliados no Palácio da Alvorada em 2014.
“Não cabe a mim ficar discutindo decisão judicial. Isso será feito no ambiente correto, mas muitos amigos me mandaram um caso da presidente Dilma Rousseff, que se reuniu no Palácio da Alvorada (…) Em 2022, apoiei Bolsonaro no segundo turno e fui ao Palácio da Alvorada com mais 80 prefeitos. Em 2024, Lula pediu votos para Boulos dentro do Palácio da Alvorada. Não podemos ter dois pesos e duas medidas, eu moro aqui. Não podemos ter dois tratamentos.”
Segundo a decisão de primeiro grau proferida pela juíza Maria Umbelina Zorzetti, Caiado usou a sede de seu governo, o Palácio das Esmeraldas, para realizar jantares de campanha para o seu candidato em Goiânia, o prefeito eleito, Sandro Mabel (União Brasil), que foi cassado por ter se beneficiado dos eventos que se sucederam ao primeiro turno do pleito.
Caiado e Mabel ainda podem recorrer no próprio TRE por uma decisão colegiada e, posteriormente, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por esse motivo, o prefeito eleito poderá tomar posse normalmente, uma vez que a perda do mandato só ocorre após o trânsito em julgado do processo.
Imagens foram divulgadas por aliados e, segundo os autos do processo, os jantares tiveram cunho eleitoral, favorecendo o postulante. A sentença do TRE cita falas atribuídas ao governador.
“Vocês não estão aqui como pessoa física, não, vocês estão aqui como líderes que vocês são e vocês colocaram seus nomes para disputar uma eleição municipal! Então se vista desta credencial e volte com muita humildade: ‘Olha, agradecer o voto. Não fui eleito, mas você pode saber que eu continuarei na luta política porque eu, ao ter o Sandro Mabel lá na prefeitura, eu tenho acesso para resolver os problemas da minha região, e ele vai resolver porque tem o apoio do governador Ronaldo Caiado’, apoio incondicional meu. E que vou estar na minha campanha, ao lado dele, em tempo integral”, teria dito Caiado.
Para sustentar o abuso de poder político, a decisão afirma que Caiado usou materiais do governo, alimentos e bebidas, e serviços de funcionários públicos para receber o candidato. O documento também argumenta que os jantares foram divulgados na imprensa e nas redes sociais, o que teria comprometido a normalidade do pleito.
As defesas de Caiado e Mabel negam irregularidades. Segundo Caiado, os eventos foram reuniões institucionais sem caráter público com o fim de parabenizar os candidatos eleitos pelo trabalho realizado, discutir estratégias para a cidade e fortalecer o diálogo entre Executivo e Legislativo. Em nota, seus advogados afirmaram que todas as atividades eleitorais foram realizadas fora do Palácio das Esmeraldas.
“A defesa, portanto, reafirma que não houve ilícito eleitoral, o qual, se tivesse ocorrido, ensejaria, no máximo, a aplicação de uma multa”, diz trecho do posicionamento.
Mabel, por sua vez, disse que os jantares foram reuniões entre o governador e candidatos de sua base aliada. Em coletiva de imprensa, disse que a cassação seria “desproporcional”.
“Nós entendemos que ela é desproporcional. Uma vez que esse evento não teve nada a ver com campanha propriamente dita. Os advogados vão cuidar disso. Eu vou cuidar de Goiânia”, disse Mabel. As informações são do jornal O Globo.