Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de novembro de 2022
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro não reconhece oficialmente a derrota nas urnas, aqueles que o apoiaram na campanha tratam o resultado da eleição como fato consumado. As dificuldades para equilibrar as contas públicas fazem governadores recorrerem ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em busca de acordos. Pragmáticos, eles também se posicionam contra manifestações que defendam intervenção militar.
Sob o argumento de que a relação com o Palácio do Planalto precisa ser mantida e passa pelas bancadas federais, governadores não escondem a preocupação com a redução do ICMS sobre os combustíveis, iniciativa que foi tomada por Bolsonaro durante o período eleitoral e atingiu o caixa dos Estados. Agora, eles vão pedir ajuda a Lula. O assunto é tratado como prioritário e emergencial.
Na prática, quem esteve ao lado de Bolsonaro na disputa evita tanto incentivar o questionamento ao resultado das urnas como fazer críticas ao presidente. O objetivo é afastar qualquer ruído no momento em que a relação com Lula vem sendo construída.
Um dos mais influentes apoiadores de Bolsonaro na campanha, o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), admitiu interesse em se reunir com Lula para levar a ele demandas do estado. “Meu estilo não é o de jogar pedra e também não é o de ser um bajulador. Eu sou muito prático. O que for melhor para Minas, estaremos discutindo”, afirmou Zema.
O governador reeleito do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), tem opinião semelhante. “Eu não preciso de alinhamento político, mas preciso de diálogo com o governo federal”, afirmou Lima, outro aliado de Bolsonaro.
Diálogo
Na Região Norte, cinco dos sete governadores eleitos apoiaram o presidente. Com novo mandato conquistado no Acre, Gladson Cameli (PP) também decidiu estabelecer contato com Lula. Cameli se encontrou com o presidente eleito na COP-27, no Egito. “Em dois minutos de conversa, já pedi dinheiro e falei das BRS”, afirmou o governador.
Cameli criticou os bloqueios de estradas feitos por apoiadores de Bolsonaro e pediu ao Ministério da Justiça que envie as Forças Armadas ao Estado para desobstruir os trechos interditados. Foi assim que também agiu outro aliado do presidente: o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), reeleito em outubro.
Durante a COP-27, Mendes passou o cargo temporariamente para o vice, Otaviano Pivetta, que mandou um recado aos manifestantes radicais, após a Polícia Militar ser escalada para desobstruir as estradas. “Partiu para a baderna, a gente vai para cima com as nossas forças de segurança, como foi feito”, declarou.
Coube ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), convocar uma reunião de seus colegas eleitos com Lula, em Brasília, no dia 7 de dezembro. O encontro, no entanto, foi adiado. Ibaneis não informou os motivos do cancelamento, mas uma nova data deve ser marcada antes da posse, em 1.º de janeiro.
Reeleito com o apoio de Bolsonaro, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), já conversou com Lula e o cumprimentou após o resultado da eleição. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que venceu a disputa para o Palácio dos Bandeirantes após ser apadrinhado por Bolsonaro – de quem foi ministro da Infraestrutura –, classificou o resultado das urnas como “soberano”.
Novo pacto
Um dia depois da eleição, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) – que conquistou o segundo mandato e é visto como bolsonarista de carteirinha –, disse estar “preparado” para Lula. No Sul, os dois governadores eleitos com apoio de Bolsonaro durante a campanha – Ratinho Júnior (PSD), no Paraná, e Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina – também já manifestaram disposição para o diálogo com Lula.
Na prática, os governadores devem pedir ao futuro presidente que se comprometa com um novo pacto federativo. Trata-se de uma pauta antiga, sempre posta à mesa nas trocas de governo. A reforma tributária é prioridade para os Estados, mas a medida só será apoiada se envolver maior divisão do dinheiro arrecadado com impostos entre governadores e prefeitos.
Recursos para abastecer os estados com vacinas e medicamentos contra a covid, além de uma compensação financeira por perdas com a redução de impostos sobre a gasolina e o diesel, também compõem a lista de pedidos a ser encaminhada por apoiadores de Bolsonaro a Lula.