O governo Lula avalia a demissão da cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) após o avanço das investigações da Polícia Federal (PF) apontando que haveria um conluio da atual gestão para blindar investigados por participação em um esquema de espionagem ilegal, a chamada “Abin Paralela”.
O uso indevido da Abin teria ocorrido quando o órgão era chefiado por Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliado de Bolsonaro que, atualmente, é deputado federal. Nos endereços do parlamentar, foram apreendidos quatro computadores, seis celulares e 20 pen drives.
Investigadores da PF têm classificado a permanência de integrantes do comando da agência como “insustentável”. Há uma ala que defende, inclusive, a demissão do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, e do diretor Alessandro Moretti.
Na quinta-feira (25), agentes apreenderam quatro computadores, seis celulares e 20 pen drives em endereços do deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da agência no governo Bolsonaro. Na decisão que autorizou a operação da PF, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirma que o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, usou o órgão para fazer espionagem ilegal a favor da família do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre autoridades espionadas estavam a ex-deputada Joice Hasselmann, o ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia.
Apurações da PF apontam que a Abin teria sido “instrumentalizada” para monitorar ilegalmente uma série de autoridades e pessoas envolvidas em investigações, e também desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ramagem ficou com um telefone celular e um notebook que seriam da agência mesmo após se desligar do órgão, aponta a PF. Os aparelhos estavam entre os objetos apreendidos nos endereços do parlamentar. A Abin alega que Ramagem perdeu o acesso ao sistema da agência em março de 2022, quando deixou o cargo para concorrer à Câmara dos Deputados e se elegeu pelo PL.
Ele entrou para a PF como delegado em 2005 e chefiou a equipe de segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, depois do atentado a faca em Juiz de Fora (MG). A partir daí, se tornou amigo próximo da família do então presidente.
Em março de 2019, ainda no início do mandato de Bolsonaro, o delegado foi nomeado assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo. Ramagem foi mantido na secretaria, como assessor do novo ministro, Luiz Eduardo Ramos, após a demissão de Santos Cruz, em junho de 2019. No mês seguinte, em julho, o delegado foi escolhido por Bolsonaro para ser diretor da Agência Brasileira de Inteligência. Sua gestão na Abin foi de julho de 2019 a março de 2022.