Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2024
O governo Luiz Inácio Lula da Silva rompeu o silêncio e reagiu à série de provocações do regime do ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, ao presidente brasileiro e integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty. Por meio de nota divulgada na sexta-feira (1°), o governo Lula se disse surpreso com o “tom ofensivo” contra o País e seus símbolos nacionais, adotado por Maduro e seus asseclas do chavismo.
“O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais”, disse o comunicado, divulgado pelo Itamaraty. “A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo.”
A reação ocorre um dia depois de forças de segurança da Venezuela publicarem nas redes sociais uma montagem com a silhueta de Lula, com o rosto na penumbra, e a bandeira do Brasil ao fundo. A imagem tinha o aviso: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal…”
O comunicado da chancelaria brasileira não faz referência direta ao presidente, tampouco a autoridades de primeiro escalão do governo que foram nos últimos dias alvo de acusações e, como definiram políticos da oposição na Câmara, de chacota e humilhação, disparadas por parte de próceres do chavismo.
O procurador-geral Tarek William Saab, homem de confiança de Maduro, acusou Lula de ser um “agente cooptado pela CIA” – a agência de inteligência dos Estados Unidos – e de inventar o acidente doméstico para faltar à reunião do Brics na Rússia. Em verdade, Lula sofreu uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, levou pontos na cabeça e deixou de viajar de avião por recomendação médica.
O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, propôs que Celso Amorim, outrora enviado a Caracas como interlocutor privilegiado do governo brasileiro, fosse declarado persona non grata na Venezuela. Amorim foi acusado, em comunicado emitido pela chancelaria venezuelana, chefia por Yván Gil, de ser “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
Já o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) foi acusado de mentir pelo próprio Maduro. O ditador disse cobrou o chanceler brasileiro e ouviu dele a versão falsa de que o País não havia vetado o ingresso da Venezuela no Brics, durante a Cúpula de Líderes de Kazan, na Rússia. Segundo Maduro, o ministro quase “desmaiou” quando o encontrou nos corredores da reunião e saiu correndo.
O ditador também acusou o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico no Itamaraty, de ter um passado “obscuro”, “intransigente”, “fascista” e “bolsonarista”. Como principal negociador do País no Brics, cargo conhecido como “sherpa”, ele foi o primeiro a comunicar a objeção brasileira. Saboia seguiu instruções de alto nível enviadas pelo próprio Lula ao Itamaraty.
Saboia já exercia o cargo durante o governo Jair Bolsonaro. Em 2013, ele ficou marcado por ter promovido a fuga da Bolívia do então senador Roger Pinto Molina, o que desagradou aos presidentes de então, a petista Dilma Rousseff e o líder cocalero boliviano Evo Morales.
Segundo diplomatas, a decisão de reagir agora foi motivada por essa série de declarações, algumas sem base na realidade, e não apenas pela montagem divulgada pela Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela. A forma e o conteúdo da reação vinham sendo discutidas nos bastidores ao longo da semana, entre Itamaraty e Palácio do Planalto.
Neste sábado (2), o governo da Venezuela voltou a subir o tom contra o Brasil , e acusou o Itamaraty de tentar “enganar” a comunidade internacional. O novo ataque ocorre um dia após o governo Luiz Inácio Lula da Silva denunciar um “tom ofensivo” de Caracas em meio às crescentes tensões diplomáticas.
Um comunicado divulgado pelo ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse que o Itamaraty “está tentando enganar a comunidade internacional, fazendo-se passar por vítima em uma situação em que claramente agiu como agressor”.
“O Itamaraty empreendeu uma agressão flagrante e grosseira contra o presidente constitucional, Nicolás Maduro Moros, instituições e poderes públicos”, acrescentou o documento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.