Ícone do site Jornal O Sul

Governo do Rio Grande do Sul lança plano de ação para enfrentamento ao racismo no sistema prisional

Documento dispõe das diretrizes de atuação específicas aos servidores penitenciários, pessoas privadas de liberdade e egressos

O governo do Rio Grande do Sul, por meio da SSPS (Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo) e da Polícia Penal, lançou o Plano de Ação Estadual de Enfrentamento ao Racismo no Sistema Prisional.

O Rio Grande do Sul é o primeiro estado brasileiro com uma política específica para o combate ao racismo no âmbito do sistema prisional. O documento aborda as ações e diretrizes a serem implementadas na esfera da questão racial para servidores penitenciários, pessoas privadas de liberdade e egressos. O evento ocorreu na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (13), e foi transmitido para servidores e público externo.

O plano de ação foi elaborado pela Comissão Permanente de Elaboração, Monitoramento e Implementação da Política Penal de Enfrentamento ao Racismo no Âmbito do Sistema Prisional. A criação e implementação do plano atende a recomendações da Nota Técnica, de novembro de 2022, que dispõe da Política de Enfrentamento ao Racismo no Âmbito do Sistema Prisional gaúcho.

Para o secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana, que participou da abertura do evento, implementar uma política como essa no sistema prisional é fundamental para começar a mudar a realidade.

“O governo do Estado tem o compromisso de promover ações de combate ao racismo em todas as áreas. No sistema prisional, não é diferente. Reafirmamos o nosso dever com essa política pioneira, que trará diversos benefícios. Com iniciativas assim, seremos capazes de gerar grandes mudanças no âmbito prisional, garantindo que o sistema seja um lugar em que todas as pessoas tenham sua dignidade respeitada”, disse Viana.

As orientações do plano incluem o desenvolvimento de iniciativas nas áreas da educação, da cultura, da qualificação profissional, do trabalho, da saúde e da regulamentação de procedimentos para pessoas privadas de liberdade e egressos do sistema penal.

Educação como base de políticas voltadas a apenados e egressos

No Rio Grande do Sul, em outubro deste ano, das 46.204 pessoas privadas de liberdade custodiadas, 15.479 se autodeclararam como pretas e pardas, das quais 906 são mulheres e 14.573 são homens, o que representa 33,5%, segundo dados do Infopen-RS, sistema que gerencia as informações penitenciárias do Estado.

Vale ressaltar que a população negra (pessoas autodeclaradas pretas e pardas) se encontra, proporcionalmente, em maior quantidade no sistema prisional gaúcho do que na população em geral, uma vez que corresponde a apenas 21,2% dos habitantes do Rio Grande do Sul, de acordo com as informações do Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dentre as ações voltadas a essa parcela, estão o incentivo à educação formal e à alfabetização, a partir da atuação entre Polícia Penal, SSPS e Secretaria da Educação, responsáveis pela execução administrativa e técnica das políticas voltadas aos apenados, pela coordenação política penitenciária e pela manutenção dos estabelecimentos de ensino que atendem a população carcerária dos 29 Neejas (Núcleos Estaduais de Educação de Jovens e Adultos do Estado) ou em uma das 36 turmas descentralizadas.

Conforme informações do relatório de educação prisional da Polícia Penal, o Rio Grande do Sul apresenta um total de 3.993 pessoas custodiadas inseridas no processo de educação formal em outubro de 2024, o que representa 9,2%. Dentre estes, há 563 pessoas negras estudando nos Neejas.

Contudo, cerca de 58% do total de 46.204 pessoas privadas de liberdade declararam não ter Ensino Fundamental completo no momento do ingresso no sistema prisional, o que representa um baixo nível de escolarização.

A proporção de apenados negros é maior do que a de não negros quando somados os níveis de instrução mais baixos – analfabetos, alfabetizados e Ensino Fundamental incompleto – e os níveis do Ensino Fundamental e Ensino Médio incompletos, correspondendo a 90% do total.

Para mudar esta realidade, a criação de cotas em cursos profissionalizantes, Ensino Superior e em atividades de práticas sociais educativas para homens e mulheres negras, complementam as propostas de atuação na área da educação. Em relação ao atendimento às pessoas egressas do sistema penal, são previstas capacitações a conselheiros penitenciários, planejamento e execução de ações específicas a esse público, além da inserção de quesitos pertinentes ao recorte racial nos instrumentos de inspeções realizadas no Estado.

Acesso à religião e saúde nos estabelecimentos prisionais

Buscando combater a discriminação e promover a assistência religiosa, em conformidade com a Lei de Execução Penal, ações de incentivo ao acesso de religiões de matriz africana e demais confissões religiosas também foram pensadas. O plano busca realizar parcerias com instituições religiosas, por meio do diagnóstico das necessidades de cada Região Penitenciária e do mapeamento das assistências religiosas prestadas em unidades prisionais.

Sair da versão mobile