Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de abril de 2025
"É uma situação de violência, de desrespeito, de abuso", disse a deputada
Foto: Mário Agra/Câmara dos DeputadosO governo dos Estados Unidos concedeu um visto de entrada à deputada federal brasileira Erika Hilton (PSOL) considerando seu gênero como sendo masculino. Erika é uma das duas primeiras parlamentares trans da Câmara dos Deputados.
Em 2023, antes da atual gestão de Donald Trump, ela já havia conseguido um visto semelhante para os EUA, mas com a informação de acordo com a sua autodeterminação de gênero como mulher.
Erika foi convidada a participar do evento Brazil Conference at Harvard & MIT 2025, que aconteceu nesta semana em Cambridge. Sua participação foi autorizada pela presidência da Câmara dos Deputados como missão oficial da parlamentar nos EUA.
Nesse tipo de viagem oficial, a Câmara solicita o visto de seus representantes diretamente à embaixada do país a ser visitado. Segundo a equipe da parlamentar, o trâmite, que deveria ser simples e protocolar, foi truncado desde o início, após novas diretrizes do governo norte-americano.
A equipe teria sido orientada, por telefone, a solicitar um visto de turista. Após novos esclarecimentos, o visto foi concedido reconhecendo o status oficial da viagem.
No entanto, a emissão do documento, no dia 3 deste mês, veio com a informação de que a deputada seria do sexo masculino. Segundo Erika, em nenhum momento ela preencheu documentação com tal informação.
Conforme o entendimento da equipe da parlamentar, não há como questionar juridicamente o documento, já que se trata de um ato de soberania do governo norte-americano.
Erika avaliou que o episódio é um problema, também, diplomático. “É absurdo que o ódio que Donald Trump nutre e estimula contra as pessoas trans tenha esbarrado em uma parlamentar brasileira indo fazer uma missão oficial em nome da Câmara dos Deputados”, disse ela.
“É uma situação de violência, de desrespeito, de abuso, inclusive, do poder, porque viola um documento brasileiro. É uma expressão escancarada, perversa, cruel, do que é a transfobia de Estado praticada pelo governo americano. Quando praticada nos Estados Unidos, ainda pede uma resposta das autoridades e do Poder Judiciário americano. Mas quando invade um outro país, pede também uma resposta diplomática, uma resposta do Itamaraty”, afirmou a deputada.
Diante da situação, ela se recusou a utilizar o documento e não foi ao evento para o qual havia sido convidada.
A decisão da embaixada dos EUA veio em meio a uma série de restrições da gestão Trump a transições de gênero de pessoas trans e banimento de termos como “gay”, “lésbica”, “transgênero” e “LGBTQ” de sites do governo norte-americano.