Sem expectativa de que haverá queda dos juros na reunião desta terça-feira (20) e quarta-feira (21) do Copom (Comitê de Política Monetária), o governo conta como certo que o BC (Banco Central) vai abrir as portas para o início da redução da taxa básica de juros (Selic) a partir de agosto.
Se o sinal dado no comunicado soltado pelo comitê após a decisão for na direção contrária, e apontar que é preciso esperar mais as expectativas de inflação se ancorarem (convergirem para a meta), o conflito entre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o governo Lula deve subir ainda mais de tom.
Interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que, num cenário desse tipo, estaria configurada uma “declaração de guerra”.
O risco que a área econômica enxerga é de ocorrer um novo descolamento da curva de juros (o valor que o mercado espera para as taxas de juros no futuro), retardando o início do ciclo de flexibilização da taxa Selic no Brasil, hoje no patamar de 13,75% ao ano. Isso aconteceu em fevereiro, quando o mercado passou para o final do ano a previsão de queda de juros.
Agora, a expectativa do mercado financeiro é de que os juros comecem a cair em agosto, mas a depender da decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional), na reunião do dia 29, sobre a meta de inflação.
Após as recentes sinalizações do ministro da Fazenda, analistas do mercado avaliam que Haddad atuou como bombeiro e esperam a manutenção da meta de 3% em 2024, 2025 e a fixação do mesmo valor em 2026, com a implantação de um modelo de meta contínua (acumulada em 12 meses). Nesse sistema, a meta deixaria de ser verificada no ano-calendário (janeiro a dezembro de cada ano).
A possibilidade de elevação da inflação foi levantada pelo presidente Lula, que nos últimos tempos parou de falar no assunto. Um integrante da área econômica destaca que os sinais já foram dados e que, ao final, todo o ruído em torno da meta vai mostrar que “a montanha pariu um rato”.
Saia justa
O nível de juros é visto pelo ministro Haddad e equipe como ponto central para a agenda econômica. O temor é que, num cenário de manutenção dos juros no patamar atual, a economia brasileira comece a desacelerar muito fortemente após a melhora de todos os indicadores econômicos: dólar, risco país, juros futuros, Bolsa e previsão de crescimento.
A reunião de agosto, em 1º e 2, já deverá contar com o voto do economista Gabriel Galípolo, se o Senado confirmar a sua indicação para a diretoria de Política Monetária. Ex-secretário executivo de Haddad, Galípolo deixou o cargo na última segunda-feira e espera a sua sabatina no Senado para o próximo dia 27.
No mercado e no BC, há uma avaliação de que a sabatina dele foi retardada para o ex-secretário não ficar numa saia justa na reunião desta semana, quando já se espera que o BC não vá reduzir os juros. No governo, a explicação é outra: a sabatina não foi marcada antes para não atrapalhar a votação do projeto de arcabouço fiscal na Comissão de Assuntos Econômicos, que se reúne uma vez por semana.