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Governo federal tem dificuldade para viabilizar bolsa-caminhoneiro de R$ 1 mil

Uma viagem de um caminhão pode aumentar em 40%, ou mais, o custo do transporte no Brasil. (Foto: Reprodução)

O governo está com dificuldade para colocar em pé a bolsa-caminhoneiro, o benefício de R$ 1 mil que será concedido até o final do ano para a compra de óleo diesel. A medida foi negociada pelo Palácio do Planalto com lideranças do Congresso sem que estivesse definido o modelo do programa, a lista dos beneficiados, como fazer a transferência dos valores e, depois, a fiscalização do uso do dinheiro. Por isso, o auxílio vem sendo chamado ironicamente pelos técnicos do governo de “Pix caminhoneiro”.

É uma situação muito diferente do Auxílio Brasil, cujos candidatos fazem o cadastramento para se habilitar ao programa nos centros de referência de assistência social das prefeituras, os Cras, e que já estão em atividade. Um jogo de empurra em torno da responsabilidade pela implantação do benefício se instalou na Esplanada. O Ministério da Economia transferiu para o Ministério da Cidadania, que passou para o Ministério da Infraestrutura.

O governo Bolsonaro pretende se basear em um cadastro genérico da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que inclui, até mesmo, registros de veículos menores, como kombi e furgão, podendo abrir espaço para uma série de fraudes. O cadastro tem sido ampliado.

Neste mês, conforme apurou a reportagem, mais 5 mil pessoas já correram para o sistema e se cadastraram como motoristas de carga. Essa média mensal de novos cadastros tem se mantido neste ano, apesar de toda a crise causada pela alta do diesel e de a classe de motoristas ameaçar greves, por não ter mais condições financeiras de trabalharem. O risco elevado de fraudes também foi alertado por técnicos da área econômica.

Seja qual for o critério que o governo venha a apresentar para aprovar o novo programa, lideranças de caminhoneiros têm criticado duramente a medida, que é vista pela categoria como ação eleitoreira para evitar riscos de greve e paralisações a menos de quatro meses das eleições. Os caminhoneiros e seus representantes cobram o fim da paridade de preço internacional (PPI) praticada pela Petrobras, que atrela o preço do combustível às oscilações do dólar e das commodities no mercado externo.

“O presidente Jair Bolsonaro, antes de ser eleito, falava da necessidade de suspender o famigerado PPI que reajusta os combustíveis e o gás de cozinha no Brasil de acordo com a variação do dólar e do preço internacional do barril do petróleo”, diz o líder da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros, deputado Nereu Crispim (PSD-RS), que também critica a atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre assunto.

“Não tenho medo de criticar essa dupla que preconiza projetos econômicos tabajara para ferrar os Estados e municípios, financeiramente, e também o povo brasileiro, que já chega a 33 milhões de pessoas passando fome”, diz o parlamentar.

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, afirmou que, “se o governo quisesse fazer alguma coisa, já teria feito faz tempo”, mas que não toma atitudes que possam mudar, de fato, a situação. “No lugar do PPI o governo poderia criar o PPB (preço de paridade brasileiro), utilizando parâmetros do mercado interno pelo que e produzido aqui e o que é importado fazer uma média, e não precificar tudo com base no mercado internacional. Isso é criminoso, o lucro da Petrobras é seis vezes maior que o resto das petroleiras pelo mundo.”

Há duas semanas, a Petrobras declarou que “não há fundamentos que indiquem a melhora do balanço global e o recuo estrutural das cotações internacionais de referência para o óleo diesel”.

Na avaliação da Petrobras, o atual cenário mundial é de escassez e, como o Brasil é deficitário em produção de óleo diesel, tendo importado quase 30% da demanda total em 2021, o resultado é este: “poderá haver maior impacto nos preços e no suprimento”.

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