Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2022
O futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá sinais de que vai resistir a uma empreitada defendida pelos Estados Unidos: uma nova missão internacional no Haiti. O tema é visto com reservas por quadros do PT e militares brasileiros que estiveram à frente da missão de estabilização no país caribenho de 2004 a 2017.
O assunto consta do material preparatório que Lula recebeu de auxiliares para o encontro com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, com quem se reuniu nesta quinta-feira (17), durante a COP-27 no Egito. Guterres tem sido um defensor da ideia de uma “força multinacional” no Haiti.
A proposta ganhou tração em outubro e foi levada a público pelos americanos durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA tentam costurar com aliados a potencial missão, que seria endossada pelo órgão sob o Capítulo 7 da carta da ONU, que trata de “ações relativas aos tratados de paz, rupturas da paz e atos de agressão”.
Responsável por liderar o braço militar da missão que ficou 13 anos no Haiti e maior País da América do Sul, o Brasil é considerado um apoio relevante para diplomatas estrangeiros nas discussões sobre o tema e as atenções de Washington se voltam, portanto, para a posição dentro do futuro governo Lula.
“Essas conversas (com outros países) estão em andamento. Vários países demonstraram interesse em saber mais sobre esse esforço, potencialmente participando dele”, disse Ned Price, porta-voz do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a jornalistas na sexta-feira passada. Lula teve encontro com John Kerry, enviado climático do governo Joe Biden. Foi a primeira reunião de alto nível do presidente eleito com uma autoridade americana.
O tema pode marcar a relação do novo governo, assim que tomar posse, não apenas com Washington, mas também com os militares brasileiros, um grupo da burocracia estatal que se manteve fiel ao governo Jair Bolsonaro (PL), inclusive durante os questionamentos do presidente ao processo eleitoral.
Proposta
EUA e México disseram que iriam apresentar dentro do Conselho de Segurança uma proposta de resolução para autorizar uma força internacional de paz no Haiti, nos termos que têm sido defendidos por Guterres. A resolução não chegou a ser apresentada, em parte porque nenhum país se mostrou disposto a assumir a liderança do processo. O possível estabelecimento de uma relação mais próxima entre EUA e o Brasil, com a eleição de Lula, alimentou os rumores de que o País poderia ficar com este papel.
O Brasil ocupa uma das cadeiras rotativas do Conselho de Segurança desde o início deste ano e permanecerá com voto no colegiado até o fim de 2023. Pessoas envolvidas na transição veem a participação em força multinacional como inoportuna, principalmente por ser fora da ONU. A proposta americana enfrentaria resistência da Rússia, em razão das relações estremecidas entre os dois países por causa da guerra na Ucrânia.
Há ainda entre os petistas o temor de que uma volta ao Haiti sirva para fortalecer politicamente os militares. O ex-deputado José Genoino disse ao site Opera Mundi que, no passado, o PT deveria ter defendido, em vez de uma solução militar para o Haiti, a adoção de políticas públicas. A linha de raciocínio de petistas é de que a experiência haitiana teria fortalecido as Operações de Garantia de Lei e Ordem (GLO) no Brasil, o que levou à intervenção federal na segurança pública do Rio, que teria ajudado a candidatura de Bolsonaro, em 2018.