Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de abril de 2020
País tem a maior taxa de mortos para cada 1 milhão de habitantes da América Latina
Foto: ReproduçãoCom os sistemas hospitalar e de saúde em colapso em razão do coronavírus, as autoridades de Guayaquil, maior cidade equatoriana, retiraram de dentro das casas, na últimas três semanas, 771 corpos.
A pandemia fez do Equador – ao lado do Panamá – o país com mais mortes de covid-19 na América Latina: 20 óbitos por 1 milhão de habitantes. O Brasil tem seis mortos para cada 1 milhão de pessoas.
Segundo Jorge Wated, líder de uma equipe de policiais e militares criada pelo governo diante do caos na cidade, os mortos retirados de residências superam o total de óbitos ocorridos em hospitais no mesmo período, que era de 631 até ontem.
A Província de Guayas concentra 72% dos 7,5 mil casos da covid-19 confirmados desde a primeira notificação do vírus no Equador, em 29 de fevereiro. O número oficial de mortes é 333, mas como faltam testes para comprovar as causas dos óbitos, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, já disse considerar que o total seja bem maior.
Apenas em Guayaquil, centro econômico do país, existem 4 mil pacientes com coronavírus. Segundo especialistas, o motivo foi a soma de um sistema de saúde frágil, a demora em adotar o isolamento social e a conexão com a Europa.
A cidade tem um fluxo permanente de migrantes pobres que voltam para passar as férias, sobretudo moradores da Espanha. E como capital econômica do país, tem também moradores de alto padrão de vida que viajam à Europa por lazer.
Conforme autoridades de Guayaquil, uma média de 36 corpos foram recolhidos por dia de casas e ruas nas últimas três semanas. A situação foi agravada por um toque de recolher de 15 horas diárias em todo o país, causando atraso na liberação de corpos no Instituto Médico Legal e nas funerárias da cidade.
Com as restrições impostas pelo governo, os corpos são sepultados sem o acompanhamento de parentes e amigos e um painel eletrônico mostra onde cada pessoa foi enterrada. Caixões de papelão foram improvisados após a doação de lojas que empacotam bananas e camarões.
Autoridades locais dizem que o primeiro caso confirmado no Equador foi de uma migrante que havia retornado da Espanha. Muitos regressaram para Guayas e não cumpriram nenhum tipo de quarentena.
A tragédia em Guayaquil é o resultado do colapso de um sistema de saúde fragilizado pela demissão de 3,5 mil trabalhadores do setor, no ano passado, em razão do pacote fechado pelo presidente Moreno para cumprir as exigências dos credores internacionais.
As finanças do Equador se deterioraram após a queda no preço do petróleo, principal fonte de ingresso monetário do país. Após as mortes em sequência, o vice-presidente, Otto Sonnenholzner, pediu desculpas aos cidadãos em nome do governo.
Entre as medidas anunciadas por Moreno para conter a crise estão o corte de 50% nos salários dele, do vice-presidente, de ministros e vice-ministros e de outros funcionários públicos.
Além disso, o governo anunciou a criação de uma conta de assistência humanitária que será financiada por empresas privadas e cidadãos que recebam salários superiores a US$ 500 por mês (R$ 2.590).