A corrente “Mensagem ao Partido”, segunda maior força interna no PT, quer que o 5º Congresso da legenda, de 11 a 14 de junho, em Salvador (BA), aprove uma resolução cobrando mudanças na política econômica do governo Dilma Rousseff.
Integrada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, a tendência vai pedir a “reorientação imediata” dos rumos da economia, redução da taxa básica de juros e manutenção dos programas sociais que sofreram corte no Orçamento.
A posição mais dura da corrente – que também conta com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – tem como parâmetro um documento aprovado na etapa gaúcha do 5º Congresso do PT, realizada no último sábado (30), em Porto Alegre. O texto vê contradições entre as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o programa de Dilma, e chega a apontar “golpismo” no plano econômico.
“Se um equilíbrio orçamentário exige correções pontuais, elas devem ser direcionadas às camadas mais favorecidas da sociedade e não podem servir de pretexto para mudar o rumo da política econômica e vergá-la aos interesses financistas”, diz o documento. “O 5º Congresso conclama os militantes, parlamentares e dirigentes do PT a unirem-se às demais forças dos movimentos sociais, da esquerda (?) para barrar o golpismo em todas as suas dimensões, inclusive no plano econômico.”
Radicalização
O presidente do PT, Rui Falcão, é contra a radicalização do documento final do congresso, que vai nortear os próximos passos do partido. Com o aval do Palácio do Planalto e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que integra a corrente majoritária CNB (Construindo um Novo Brasil), Falcão tenta mapear as divergências e construir um acordo com as outras correntes, para que a resolução reflita o “pós-ajuste”, momento em que o governo procura reagir à crise, imprimindo uma agenda positiva. “Não quero uma resolução que fique fazendo juízo de valor contra o governo”, disse Falcão, após reunião da executiva nacional petista, em Brasília.
Apesar de contrário a uma crítica frontal na direção da equipe econômica, o presidente do PT defendeu posições que contrastam com as de Levy. Nessa lista estão a volta da CPMF, o imposto do cheque, e a sanção sem veto da proposta aprovada pelo Senado que flexibiliza o fator previdenciário, mecanismo criado no governo de Fernando Henrique Cardoso para reduzir o valor da aposentadoria em até 30%.
“O mais simples seria isso, mas não me parece ser intenção do governo sancionar [o texto] como está”, afirmou Falcão. “O partido é uma coisa e o governo, outra. Muitas vezes o governo toma iniciativas que, pela conjuntura, é melhor para nós não opinar, para não jogar água no moinho dos adversários.”
O 5º Congresso do PT também deve manter a decisão do Diretório Nacional de vetar doações de empresas ao partido até que o impasse sobre o financiamento da política no País seja resolvido pelo Legislativo. Em abril, o partido suspendeu o recebimento de doações empresariais, decisão que precisa ser referendada no encontro.
O cronograma, no entanto, foi atropelado pela ação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandou a aprovação de uma emenda que prevê doações empresariais apenas para os partidos. O texto foi votado um dia após emenda que previa financiamento privado a candidatos ter sido rejeitada. (AE)