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Grandes cidades do litoral brasileiro podem ser inundadas pelo mar nas próximas décadas se o aumento na temperatura da Terra mantiver o ritmo atual

Porto Alegre integra lista de capitais ameaçadas pelo avanço das águas. (Foto: Gustavo Garbino/PMPA)

Grandes cidades litorâneas do Brasil estão buscando medidas de prevenção e mitigação de possíveis danos. Estudos apontam que essas localidades podem ser inundadas pelo mar nas próximas décadas se o aumento na temperatura da Terra mantiver o ritmo atual. Estão na lista das cidades ameaçadas as capitais Fortaleza (CE), Rio (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), Porto Alegre (RS), São Luís (MA), além da cidade de Santos (SP).

Conforme o estudo, Porto Alegre (RS), que acaba de sofrer grandes inundações, teria as margens do Rio Jacuí, toda a beira do Lago Guaíba e a região da Usina do Gasômetro atingidas pela subida das águas, com a temperatura global escalando 3°C. Com a alta de 1,5°C, parte dessas áreas ficaria inacessível.

Os planos de ação adotados pelas capitais vão desde o corte na emissão de gases até a instalação de sistemas de monitoramento e alertas de eventos extremos. O Rio de Janeiro, maior cidade a ser afetada, por exemplo, fez parceria com a Nasa, a agência espacial americana, para monitorar o avanço do mar e se antecipar a ele.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apontaram que a taxa de aumento médio do nível do mar global nos últimos dez anos (2014-2023) foi mais do que o dobro da primeira registrada por satélite (1992-2002).

O aquecimento do planeta é causado pelo aumento, na atmosfera, de gases de efeito estufa, resultantes principalmente da queima de combustíveis fósseis. Desmatamento e queimadas agravam o cenário.

Um estudo da organização Climate Central, divulgado em 2021 e atualizado em 2023, mostra que
2,1 milhões de pessoas serão afetadas por alagamentos nas regiões costeiras brasileiras. A Climate Central se baseou em informações do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), aplicadas a dados populacionais. Foi utilizado um modelo de elevação digital por inteligência artificial (IA), o Coastal IDEM, que junta dados globais sobre a altura das terras costeiras.

Prevenção

Para Ronaldo Christofoletti, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em Ciência do Mar, os planos das prefeituras para enfrentar o avanço do mar precisam ser mais ambiciosos na quantidade das ações e nos prazos, com entregas em espaços de tempo de curto e médio prazo.

Ele diz ser positivo que as cidades estejam aderindo às ações que têm impacto global, mas ainda podem avançar mais nas ações locais. É importante, afirma, investir em pavimentação porosa, o que facilita a infiltração da água, melhorando a absorção. “Em áreas bem críticas para a subida do nível do mar, precisamos pensar em retração e relocação de população. O tema é sensível mas precisa começar a ser discutido.”

Considerando as situações de emergência, que continuarão a ser cada vez mais frequentes, ele defende adaptações em bairros residenciais que incluam construção de tanques para captação de água e ‘refúgios climáticos’, que são áreas para as quais as populações em risco saibam como ir e os locais estejam preparados.

Planos de ação

Em algumas capitais e cidades litorâneas já há ações práticas e obras para conter as inundações que podem se agravar com o aumento no nível do mar. No caso do Rio, segunda maior metrópole brasileira, estudos próprios apontam o risco de alagamento da Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá, além de outras áreas. Com o avanço do mar, podem submergir praias da Ilha do Governador.

Em Recife, o bairro de Casa Amarela, na zona norte, seria alagado pelo rio Capibaribe, com a elevação de 1,5°C na temperatura global. Já com 3°C, a maior parte das ruas e avenidas seria inundada.

A prefeitura deu início à retirada de moradores para criar espaço para o avanço das águas. O Parque Alagável do Rio Tejipió terá 3,9 mil m² de área com gramados e estruturas que retêm as águas. O município já iniciou a desapropriação e demolição de 107 imóveis residenciais e comerciais construídos à margem do rio.

Algumas cidades já construíram barreiras artificiais para conter o avanço do mar. Em Santos, a prefeitura instalou uma barreira de geobags – grandes sacos de material geotêxtil cheios de areia – para evitar que as ressacas avancem sobre a área urbana na Ponta da Praia. No local estão dispostos 49 sacolões, numa extensão de 275 m.

Já Fortaleza contará com um lago subterrâneo artificial para conter os alagamentos. Com capacidade para armazenar 14 mil m³ de água – volume equivalente ao de 13 piscinas olímpicas.

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