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Grávidas são orientadas a usar camisinha para evitar contágio sexual pelo zika vírus

Embora recomendado pela OMS e pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, o uso de preservativos pelas grávidas e seus parceiros é controverso no Brasil. (Crédito: Milton Michida/AE)

Em um mês, o número de países com registros de transmissão sexual do zika vírus mais do que dobrou, o que levou autoridades de saúde a lançarem mais uma orientação às grávidas: o uso de camisinha nas relações sexuais. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), até o dia 14 de abril, sete países (EUA, França, Itália, Nova Zelândia, Chile, Argentina e Peru) tinham registros da transmissão sexual do zika. Em março, eram três.

Embora recomendado pela OMS e pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, o uso de preservativos pelas grávidas e seus parceiros é controverso no Brasil. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, endossa essa orientação e publicou nota, recomendando, inclusive, o uso do preservativo feminino.

“A hipótese de transmissão sexual ganhou força, com vários países relatando casos, e não podemos descuidar, principalmente das gestantes. A camisinha deve ser usada durante a gravidez”, diz o médico epidemiologista Fabio Mesquita, diretor do departamento de DST/Aids.

Ele afirma que, durante a gestação, as mulheres têm vida sexual normal até ao menos o sétimo mês. “Não é comum usar preservativo com seus parceiros fixos. Mas agora é importante, assim como outras medidas de proteção.”

Para o ginecologista Cesar Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a transmissão sexual do zika preocupa, porém ainda não está bem dimensionada, o que dificulta estender a orientação do uso da camisinha para todas as gestantes.

A Febrasgo prepara uma cartilha para orientar os obstetras do País sobre como devem conduzir a questão do vírus da zika durante a gravidez, contudo ainda não decidiu como vai tratar da questão do uso preservativo no período. “O casal que já tem vida sexual estabelecida, não sei se vai aderir a isso [camisinha]”, afirma Fernandes.

Quando o risco de transmissão do vírus é maior, ele recomenda o preservativo. “Todos os vizinhos de uma paciente grávida, que mora no Rio, pegaram zika. Por causa disso, ela se mudou temporariamente para Curitiba. O marido, por questões de trabalho, continuou no Rio. Então, já avisei que tem que usar [o preservativo].”

O obstetra Thomaz Gollop também diz que há resistência dos colegas no trato da questão. “Entre os infectologistas e imunologistas, a informação circula mais e eles já estão mais conscientes dos riscos.”

Gollop afirma que recomenda que pacientes gestantes usem preservativo como forma de proteção contra o zika, mas a relutância tem sido grande. “Não aceitam, mesmo nas classes A e B. Se o marido propor o uso de preservativo, então… As mulheres logo desconfiam de traição.”

Casos suspeitos de transmissão sexual.

Ao todo, os sete países reúnem ao menos 20 casos suspeitos de transmissão sexual do vírus da zika. Todos têm histórico parecido: o parceiro viajou para uma região epidêmica e, quando retornou ao país de origem, acabou infectando a parceira ou o parceiro.

Outra característica em comum é o fato de o zika ter sido encontrado no sêmen dos viajantes. E nenhum outro vetor (mosquito aedes) foi localizado na região onde viviam os casais.

Há também indicações iniciais da presença do vírus em outros fluidos do corpo, como a saliva e a urina, no entanto, não existe comprovação científica de transmissão por esses meios. Já em relação ao sangue, o País investiga pelo menos dois casos. (Folhapress)

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