A tripulação do voo A3 603 (Londres-Atenas) da Aegean Airlines desembarcou um tanto temerosa na noite dessa segunda-feira (29) na capital grega. Afinal, nesta terça-feira, além do calote do governo grego, é dia de pagamento de salários na empresa aérea do país, assim como para a maioria dos gregos.
O salário deve cair na conta de cada um, mas nenhum deles poderá movimentar ou sacar o dinheiro, por causa das restrições impostas pelo governo para conter a fuga de capital diante da falta de acordo com os credores.
Foi estabelecido, por exemplo, um limite de € 60 por dia de retirada nos caixas eletrônicos, mas somente para quem mora no país.
Cartões estrangeiros, como os de turistas, não têm limite – a reportagem testou e conseguiu sacar € 100 no aeroporto. O problema é que alguns caixas já começam a apresentar falta de moeda –no aeroporto, três das quatro máquinas estavam vazias.
A aposentada Kouia Zejjim, 68, tentou sem sucesso retirar dinheiro. Mostrava, irritada, o cartão para a reportagem como símbolo de algo inútil naquele momento.
Ela, no entanto, deve ter a chance de sacar em um agência bancária na quinta (2), quando há a previsão de que 850 delas abram para os aposentados. A tripulação do voo em que a reportagem da Folha viajou sabia, porém, que não teria a mesma chance.
“A empresa vai pagar, mas não tenho direito de mexer?”, gesticulava, espantada, a comissária Anna (pediu para preservar o sobrenome), 29.
Ela fez uma confissão: há cinco meses vinha sacando todo o salário, seguindo conselho de uma irmã bancária de que havia risco de controle de capital.
Voto pelo acordo
Na tripulação de cinco pessoas, incluindo piloto e copiloto, todos disseram à reportagem que votarão a favor de um acordo com credores no plebiscito de domingo (5).
A questão é a falta de detalhes sobre as negociações. “Para mim, a votação é ficar ou não na zona do euro. É como me perguntar se você deve ou não fazer uma cirurgia: eu não entendo nada do assunto, mas posso opinar sobre o que acho melhor para você. Para mim, no caso, o melhor é ficar na zona do euro”, disse a comissária Anna.
A restrição de saques afetou muita gente, mas os taxistas são os que menos reclamam em Atenas: recebem em dinheiro vivo. “Mesmo assim, estou sacando os € 60 permitidos. Já estamos com restrições, então é melhor garantir”, disse a taxista Pie Tsoulakis, 52. (Leando Colon/Folhapress)