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Por Redação O Sul | 29 de agosto de 2020
O grupo comandado pelo Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, usou laranjas, imóveis, offshore e depósitos fracionados para lavar o dinheiro desviado de contratos do governo do RJ, afirma o Ministério Público Federal (MPF).
O político e seus dois filhos, Filipe Pereira e Laércio Pereira, foram presos na sexta-feira (28) na Operação Tris in Idem, que também determinou o afastamento do cargo do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
Relatórios de inteligência financeira mostram R$ 884 mil em depósitos fracionados em dinheiro nas contas de duas empresas controladas por Everaldo e os filhos. As movimentações apontam para esquemas anteriores à chegada de Witzel ao poder.
Segundo a denúncia do MPF, Everaldo “realizou dezenas de depósitos em espécie, em valor fracionado, de modo a dissimular o total da movimentação, em atividade típica de lavagem de capitais”.
“A necessidade de encobrir os valores ilícitos recebidos levou os investigados a realizarem uma série de atos de lavagem de capitais, cujas transações financeiras foram detectadas pela Unidade de Inteligência Financeira (UIF, antigo COAF).”
Os documentos mostram que a EDP Corretora de Seguros, que tem o pastor e os filhos como sócios, recebeu 176 depósitos em espécie no valor total de R$ 741.739 entre 3 de junho de 2015 e 13 de maio de 2020.
Já a Laércio de Almeida Pereira Sociedade Individual de Advocacia, empresa individual de Laércio Pereira, registrou 37 depósitos em dinheiro, somando R$ 143.154, entre 2 de janeiro de 2017 e 18 de maio de 2020.
Os alertas da UIF revelam também que o Pastor Everaldo pagou R$ 2 milhões por um apartamento na Avenida Gláucio Gil, no Recreio, Zona Oeste do Rio, usando dinheiro vivo para quitar parte da operação.
Também mostram que o filho Felipe Pereira, que também era assessor de Witzel, comprou um imóvel por valor bem abaixo do mercado. Ele pagou R$ 401 mil por um apartamento na Rua Joaquim Cardoso, no Recreio, avaliado em R$ 1,2 milhão. E desembolsou R$ 35 mil em espécie.
Pastor Everaldo foi citado na delação premiada do ex-secretário de saúde, Edmar Santos, por conta da influência dele no Palácio Guanabara. O ex-secretário foi preso por corrupção. Segundo a delação, era o pastor Everaldo quem mandava na Saúde.
De acordo com documento que acompanha as diligências autorizadas pelo STJ, Everaldo seria líder de um dos grupos que compõem uma “sofisticada organização criminosa” que tem “o objetivo comum de desviar recursos públicos e realizar a lavagem de capitais, dentre outros crimes”.
O MPF afirma que o político comanda o segundo braço da organização “como se proprietário fosse, alguns setores da Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro, principalmente sobre as contratações e orçamentos da Cedae, Detran e da pasta da saúde do Estado do Rio de Janeiro”.
Também integram o grupo do pastor Victor Hugo Amaral Cavalcante Barroso, operador financeiro, responsável por “efetuar contatos com agentes públicos e empresários, indica as empresas e organizações sociais que devem ser contratadas pela secretaria de Saúde do Rio de Janeiro”; e Edson Torres, que segundo Edmar Santos, é o dono de fato de empresas contratadas pelo Estado e foi o responsável por indicá-lo ao cargo de Secretário de Estado da Saúde do Rio de Janeiro para que pudesse exercer influência sobre a pasta.
Outro integrante da organização criminosa é Marcos Dias Pereira, irmão do Pastor Everaldo. Ele controla a OS Nova Esperança, que administra o pronto-socorro do Complexo Penitenciário de Bangu.
Segundo o MPF, a OS é formalmente administrada por uma “laranja”: Cláudia Marta Pessanha de Souza. Ela tinha uma renda de R$ 500 mensais até 2008 e está recebendo auxílio emergencial emergencial no período de quarentena em razão da Covid-19.
Os documentos aceitos pelo STJ mostram que a empresa de Laércio fez transferências fracionadas para uma empresa do tio Marcos, a Marcos Dias Comércio de Pescado, no valor de R$ 40 mil.
Outro expediente adotado pelo grupo de Everaldo para lavar dinheiro foi o uso de empresas offshore sediadas no Uruguai e na Suíça, segundo o MPF.
De acordo com os documentos, Victor Barroso, operador do esquema, tem endereço em Montevidéu, no Uruguai, e criou pelo menos três empresas offshore. A Tremezo S/A, a South America Properties LLC e a Firbank Corporation foram registradas no nome da mãe e da irmã para ocultar dinheiro ilícito, aponta o MPF.
Na denúncia, os promotores ressaltam que Juarez Fialho da Silva Junior, secretário de Cidades do RJ e tesoureiro do PSC, é dono da offshore Procorre Consulting SA. E que ele é sócio de Victor Hugo na USS Holdings, uma das sócias da Fênix Segurança e Transporte de Valores, envolvida no esquema de desvio de recursos do governo estadual. As informações são do portal de notícias G1.