Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2024
Se a quarta etapa da Operação Última Milha conseguiu mapear um novo núcleo da suposta organização criminosa integrada pela “Abin paralela”, a Polícia Federal (PF) ainda quer avançar nas investigações sobre os “indícios veementes” que encontrou de crime de corrupção passiva ocorridos durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A suspeita dos investigadores é de que o grupo visava não só vantagens políticas, mas também econômicas, por meio da corrupção passiva. Ao requerer as diligências cumpridas na última quinta-feira (11), a corporação diz que os indícios serão tratados “no momento oportuno para a investigação”.
“A estrutura paralela executava ações clandestinas que garantiram vantagens, seja de ordem política, ao ponto de atribuir a policial federal cedido a ‘ação de inteligência’ de ‘cuidar de rede social’, seja de ordem econômica em razão dos indícios veementes de atos de corrupção passiva identificados”, registrou a PF. A indicação ocorreu quando a Polícia Federal pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a expedição de cinco ordens de prisão, cumpridas nessa semana.
Riscos
Entre os que tiveram a prisão decretada estão Marcelo Araújo Bormevet, agente da PF que era chefe da Coordenação-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Segurança Corporativa da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército que fazia parte do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin.
Os investigadores argumentaram que a liberdade de Giancarlo e de Bormevet, “responsáveis pela execução e ações clandestinas”, representava risco à investigação, considerando ações realizadas para “embaraçar todas as investigações, sejam elas policiais, do Ministério Público e parlamento federal em benefício do núcleo-político”.
A PF diz que ainda não identificou todos os integrantes da organização criminosa. Também destacou a Moraes que as ações de desinformações promovidas pelo grupo seguem em andamento, inclusive por parte de foragidos da Justiça.
CPI
Um dos políticos que, segundo a PF, foram alvo da Abin paralela, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) prometeu levar o caso do monitoramento ilegal de opositores do ex-presidente à Justiça, inclusive em cortes internacionais.
Segundo o parlamentar, que foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a gestão do governo Bolsonaro durante a pandemia de covid, a atuação do colegiado pode ter sido prejudicada por uma “grampolândia” orquestrada por órgãos do governo Bolsonaro.
Em postagem no X (antigo Twitter), Renan disse que as revelações da investigação da PF podem justificar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) reabra apurações da CPI. Em novembro de 2022, o então procurador-geral, Augusto Aras, pediu o arquivamento das investigações.
Em fevereiro de 2023, a ministra Rosa Weber, então presidente do STF, contrariou o parecer e determinou a continuidade do inquérito. O caso ainda tramita na Corte. A CPI sugeriu o indiciamento de 66 pessoas em outubro de 2021. A lista inclui Bolsonaro e os três filhos políticos dele (Carlos, Eduardo e Flávio).
Além de Calheiros, a Polícia Federal investiga se a ‘Abin paralela’ monitorou outros quatro deputados federais, três senadores, um ex-governador, dois servidores do Ibama, três auditores da Receita e quatro jornalistas. Entre as provas coletadas na quarta fase da Operação Última Milha está a gravação de reunião entre o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que dirigiu a Abin no governo Bolsonaro, e o ex-presidente. Na gravação, eles discutem um plano para anular o inquérito das “rachadinhas”, que mirou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).