Domingo, 13 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de abril de 2025
A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China — após o presidente americano Donald Trump anunciar novas tarifas, e os chineses responderem com retaliações — aumentou o temor de uma recessão global e pode influenciar a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por decidir a taxa básica de juros no Brasil, a Selic.
Analistas afirmam que, com a possibilidade de a economia mundial crescer menos e os preços caírem no exterior, o Banco Central (BC) pode decidir encerrar o atual ciclo de alta de juros já na reunião de maio. Antes desse novo conflito, o mercado acreditava que a Selic subiria para 15% ao ano, ou até mais.
Agora, já há previsões apontando para menos de 15% no fim do ciclo. Na última reunião, a taxa foi elevada em um ponto percentual, para 14,25%, e o Banco Central sinalizou que poderia fazer uma alta adicional de menor intensidade.
Recessão global
O JPMorgan passou a projetar apenas mais uma alta da Taxa Selic neste ciclo, de 0,5 ponto, na reunião de maio. Além disso, a instituição antecipou em seu cenário-base o início do ciclo de flexibilização monetária para a reunião de novembro do Copom, com a Selic fechando o ano em 13,75%, contra 15,25% na projeção anterior. Ao fim de 2026, a previsão para a Selic foi cortada de 12,5% para 9,75%.
A combinação de juros em queda em outros países, risco de recessão global e estímulos ainda ativos no Brasil (como programas de crédito e incentivos fiscais) pode levar o Copom a fazer uma pausa para observar os efeitos das medidas que já foram tomadas até aqui.
Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria, o cenário mais provável ainda é de uma alta dos juros em maio, encerrando o ciclo em 14,75% ao ano. No entanto, ela reconhece que, se a desaceleração econômica se confirmar e os preços das commodities seguirem em queda, o Banco Central pode decidir parar já agora.
“O início do ciclo de cortes vai depender de uma evidência maior de desinflação que também se reflita em queda das expectativas. Isso já é parcialmente observado nas taxas implícitas da curva de juros (negociações de juros futuros), mas ainda não foi capturado na pesquisa Focus (pesquisa do BC junto ao mercado)”, destaca Vitoria.
Segundo ela, uma redução dos juros mais à frente depende de uma queda mais consistente da inflação, especialmente no setor de serviços, e de uma melhora nas expectativas do mercado, que ainda não aparecem nos dados.
“Com o cenário de maior aversão a risco e nova fraqueza das moedas emergentes, o BC deverá ser cauteloso ao iniciar o ciclo de afrouxamento, pois mesmo com o cenário de queda da atividade ainda podemos ter inflação alta no curto prazo”, afirma.
Desafio da inflação
Por outro lado, a inflação doméstica ainda é um desafio para o corte de juros. Dados divulgados ontem pelo IBGE apontam que o IPCA, índice oficial do país, fechou em alta de 0,56% em março. No acumulado em 12 meses, a inflação registra um avanço de 5,48%.
Para economistas da G5 Partners, esse dado torna difícil esperar algum refresco na política monetária, mesmo com as confusões externas. A casa projeta uma Selic de 15,50%, mas com viés de baixa devido a uma possível desaceleração da economia mundial.
Alexandre Chaia, economista e professor do Insper, destaca que se os próximos sinais da economia mundial confirmarem uma desaceleração mais forte — com queda nos preços de produtos básicos — o BC pode decidir interromper a alta dos juros, entendendo que os riscos de inflação estão diminuindo.
Mais adiante, se a inflação der sinais claros de que está realmente voltando para o centro da meta estabelecida, existe a possibilidade de o BC iniciar um novo ciclo: o de corte de juros, para ajudar a estimular a economia de forma gradual e segura.
Para ele, o BC deve evitar mudanças bruscas e, mesmo com cenário de retração no mundo, é preciso ter cautela antes de começar um ciclo de redução de juros.