Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de outubro de 2022
Após os maiores bombardeios de cidades da Ucrânia desde o início da guerra, lançados no início desta semana em retaliação à explosão que derrubou um trecho da ponte que liga a Península da Crimeia à Rússia, o presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta sexta-feira (14) que não prevê “imediatamente” novos ataques “maciços” de aviação. Apesar de declarar que não se arrepende da invasão, ele afirmou que seu objetivo não é destruir o país vizinho e que um confronto direto entre tropas russas e da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, representaria uma “catástrofe global”.
“Hoje, há outros objetivos. Por enquanto. Veremos mais tarde”, disse o presidente russo em entrevista coletiva depois de uma cúpula da Comunidade de Estados Independentes (CEI), bloco que reúne 11 ex-repúblicas soviéticas, em Astana, no Cazaquistão. “Não temos como objetivo destruir a Ucrânia”, completou, sem deixar claro quais seriam os objetivos atuais da ofensiva.
Com estruturas de energia e comunicações como alvos principais, os bombardeios do início da semana atingiram 12 cidades ucranianas, incluindo a capital, Kiev, e provocaram cortes de luz e gás em várias regiões. Os ataques levaram a fortes condenações dos EUA e da União Europeia (UE), que anunciaram o envio de mais armas a Kiev, além de pedidos de contenção da China e da Índia, que mantêm boas relações com a Rússia.
Nesta sexta, Putin baixou o tom, mas manteve a defesa da invasão, justificada na época pela suposta perseguição a cidadãos de origem russa na Ucrânia, a suposta “nazificação” do governo de Volodymyr Zelensky e a aproximação entre Kiev e a Otan. Questionado por um jornalista se se arrependia de ter iniciado a guerra, ele respondeu:
“Não é agradável o que está acontecendo agora, mas teríamos chegado à mesma situação um pouco mais tarde, só que as condições teriam sido piores para nós. Então estamos agindo de maneira correta e oportuna.”
Indagado sobre a possibilidade de a guerra se expandir e virar um confronto direto entre a Rússia e a Otan, o presidente russo disse que isso seria “um passo muito perigoso que levaria a uma catástrofe global”. Na véspera, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, ameaçou com a “aniquilação” das forças russas se Moscou usasse armas nucleares na Ucrânia, numa inédita sugestão de envolvimento direto da aliança ocidental no conflito.
O presidente russo admitiu que a guerra incomoda outras ex-repúblicas soviéticas, incluindo o Cazaquistão, anfitrião do encontro da CEI, que manteve suas fronteiras abertas para os russos que tentam escapar do alistamento de reservistas anunciado por Putin em setembro.
“É claro, os parceiros estão interessados, mas também preocupados com o futuro das relações entre Rússia e Ucrânia”, afirmou. “Mas isso não afeta em nada a forma, a qualidade e a profundidade das relações da Rússia com esses países.”
Na entrevista, Putin disse ainda que não espera expandir a mobilização de reservistas além dos 300 mil anunciados no mês passado. Segundo ele, 222 mil já foram recrutados e 16 mil já estão lutando na Ucrânia. Com isso, a “mobilização parcial” deve terminar em duas semanas, afirmou.
“A linha de frente tem mais de 1.100 quilômetros, e era quase impossível mantê-la exclusivamente com militares profissionais”, justificou. “Mas não há necessidade de mais esforços desse tipo no futuro previsível”, disse.
A convocação dos reservistas ocorreu diante de grande pressão dos militares e de aliados do Kremlin, que cobravam uma resposta à contraofensiva iniciada pela Ucrânia no início de agosto, na qual as forças de Kiev recuperaram territórios ocupados pela Rússia. Ela era evitada até então por Putin para não levar para dentro de casa a “operação militar especial” — nunca houve uma declaração formal de guerra.
Negociações
Ainda na entrevista desta sexta, Putin disse estar “aberto” a negociações com a Ucrânia e à mediação de países como Turquia e Emirados Árabes Unidos, e criticou as autoridades ucranianas por se recusarem a conversar com ele. Sobre os EUA, disse que não vê “necessidade” de falar com o presidente Joe Biden, mesmo no âmbito da próxima cúpula do G20. As negociações entre Kiev e Moscou para um cessar-fogo foram interrompidas em março.
“Não vejo necessidade, atualmente não há nenhuma plataforma de negociações”, disse Putin, que não decidiu ainda se comparecerá ao encontro das 20 maiores economias do mundo, previsto para novembro, na Indonésia.