A Rússia forneceu mísseis antiaéreos à Coreia do Norte em troca do envio de milhares de soldados para apoiar Moscou na guerra contra a Ucrânia, disse nesta sexta-feira o diretor de segurança nacional da Coreia do Sul. Moscou também enviou, ilegalmente, mais de um milhão de barris de petróleo para Pyongyang desde março, segundo imagens de satélite analisadas pelo Open Source Center, um grupo sem fins lucrativos baseado no Reino Unido, e publicadas pela rede britânica BBC.
“Foi detectado que equipamentos e mísseis antiaéreos foram enviados à Coreia do Norte com a intenção de reforçar o vulnerável sistema de defesa aérea de Pyongyang”, disse Shin Won-sik, principal conselheiro de Segurança de Seul, ao canal de televisão SBS, quando perguntado sobre o que a Coreia do Sul achava que a Coreia do Norte havia recebido em troca do envio de suas tropas.
A Rússia também estaria fornecendo outras tecnologias militares para a Coreia do Norte, incluindo ajuda para melhorar os programas de lançamento de satélites do país, segundo Shin. Depois de duas tentativas fracassadas, Pyongyang colocou seu primeiro satélite espião em órbita em novembro do ano passado, provocando especulações de que Moscou estaria por trás do sucesso. Porém, em maio, um foguete norte-coreano que levava outro satélite de reconhecimento militar para a órbita explodiu no ar logo após a decolagem.
Há suspeitas de que a Coreia do Norte ainda tenha recebido ajuda econômica. A Rússia provavelmente enviou mais de um milhão de barris de petróleo para a Coreia do Norte em um período de oito meses neste ano, violando as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, de acordo com uma análise de imagens de satélite feita pela Open Source Center e publicada pela BBC nessa sexta.
Efetivo
Autoridades sul-coreanas e dos Estados Unidos acusam a Coreia do Norte de ter enviado cerca de 11 mil soldados para a Rússia nas últimas semanas, alguns dos quais se juntaram às forças de Moscou em sua luta para retomar territórios ocupados pela Ucrânia na região russa de Kursk. A Coreia do Norte também teria enviado cerca de 20 mil contêineres de armas para a Rússia desde o verão de 2023, incluindo armas e projéteis de artilharia, mísseis balísticos de curto alcance e lançadores múltiplos de foguetes, segundo autoridades sul-coreanas.
Em troca, espera-se que a Coreia do Norte busque ajuda russa para modernizar suas Forças Armadas convencionais e avançar seu programa de armas nucleares e mísseis. Um dos maiores pontos fracos das Forças Armadas norte-coreanas tem sido seu sistema de defesa aérea deficiente e desatualizado, enquanto os Estados Unidos e seus aliados na Coreia do Sul e no Japão possuem frotas de aviões de guerra de alta tecnologia, incluindo os caças furtivos F-35, que têm baixíssima detecção por radar.
Parceria
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin, assinaram um tratado de parceria estratégica em junho. O texto obriga ambos os países a prestar assistência militar “sem demora” em caso de ataque a um deles e a cooperar internacionalmente para enfrentar as sanções ocidentais.
Em uma visita recente a Moscou, a ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son-hui, disse que seu país “apoiará firmemente” a Rússia “até o dia da vitória”. Ambos os países estão sujeitos a sanções da ONU — Pyongyang pelo seu programa de armas nucleares e Moscou pela guerra na Ucrânia.
Como um emblema do aprofundamento dos laços entre os dois países, Putin enviou mais de 70 animais para a Coreia do Norte, incluindo ursos, iaques domésticos e um leão africano, como um presente para o povo coreano, de acordo com a TASS, uma agência de notícias russa.
Saiba mais
O envio de tropas para a guerra Rússia-Ucrânia é o primeiro grande envolvimento da Coreia do Norte em um conflito armado desde a Guerra da Coreia de 1950-53. Espera-se que isso ajude os militares norte-coreanos a ganhar experiência em combate e aprender sobre a guerra moderna.
A ação destaca o aprofundamento dos laços militares da Coreia do Norte com a Rússia em um momento em que o país asiático buscava um parceiro para combater a crescente cooperação militar entre os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão no nordeste da Ásia. O envio de tropas norte-coreanas também provocou uma mudança de tom por parte de Seul, que resistiu aos apelos para enviar armas para Kiev, mas recentemente indicou que poderia voltar atrás em sua decisão.