O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresentou nessa quarta-feira (16) no Parlamento de Kiev o seu “Plano para a Vitória”, uma série de diretrizes que a cúpula militar e do governo ucraniano traçaram para pôr fim à guerra com a Rússia. Zelensky descartou a possibilidade de ceder território para encerrar o conflito e voltou a pedir às potências ocidentais que aumentem a ajuda — enquanto a Otan confirmou que debateria o projeto durante uma reunião ministerial na quinta-feira, Moscou disse que a proposta ucraniana “empurra” a organização para um “conflito direto” com a Rússia.
“A Rússia deve perder a guerra contra a Ucrânia. Não pode haver um ‘congelamento’ [da linha de frente]. Não pode haver troca que envolva o território da Ucrânia ou sua soberania”, afirmou o presidente aos deputados durante a explicação do plano.
Com a atenção internacional dividida entre diferentes frentes de conflito pelo mundo, a Ucrânia luta para que seus aliados ocidentais mantenham o apoio continuado que vêm oferecendo há quase três anos — em um momento em que a situação no front apresenta dificuldades, com um aumento no número de deserções e avanços das tropas russas nos últimos dias.
Uma das propostas apresentadas por Zelensky no Parlamento foi a mobilização de recursos de dissuasão não-nucleares ao país. O presidente afirmou que os detalhes da proposta foram incluídos em um “anexo secreto” do plano, transmitido aos Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália e Alemanha.
“A Ucrânia propõe instalar em seu território um conjunto completo de medidas de dissuasão estratégica não-nucleares, que será suficiente para proteger a Ucrânia de qualquer ameaça militar da Rússia”, explicou Zelensky.
No continente europeu, diretamente afetado pelo conflito e sob a ameaça de uma ampliação das hostilidades russas, alguns líderes afirmam que a prioridade deve ser encontrar um fim para o conflito.
“Juntamente com o apoio claro à Ucrânia, é hora de fazermos tudo o que pudermos para explorar como podemos chegar a uma situação em que esta guerra não continue indefinidamente”, afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, em um pronunciamento no Parlamento do país, dizendo que estava aberto a negociações envolvendo o presidente russo, Vladimir Putin.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que o plano de Zelensky será analisado durante uma reunião ministerial com presença de todos os Estados-membros. Embora tenha dito que cada ponto precisará ser analisado em conjunto, Rutte antecipou que a aliança continuará enviando “ajuda militar maciça para a Ucrânia”.
“[O plano] tem muitos aspectos e muitas questões políticas e militares que realmente precisamos negociar com os ucranianos para entender o que há por trás dele, para ver o que podemos fazer e o que não podemos fazer. (…) Não vou comentar cada elemento do plano, mas considero que sem dúvida é um sinal muito forte da parte de Zelensky e de sua equipe”, disse Rutte à imprensa.
Prioridades
Diante do Parlamento ucraniano, Zelensky afirmou que a prioridade do “Plano para a Vitória” é a maior integração da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA. O presidente afirmou que Moscou minou a segurança da Europa durante décadas, porque Kiev não é parte da organização de defesa coletiva.
Zelensky ainda fez um apelo aos aliados para que retirem as restrições ao uso de armas de longo alcance em todo o território da Ucrânia ocupado pela Rússia e em território russo, sobre a infraestrutura militar inimiga — um ponto sensível há meses, que fez Moscou alterar sua doutrina nuclear em um sinal de alerta aos avanços ocidentais por meio de Kiev.
Posição da Rússia
A Rússia, que invadiu a Ucrânia no fim de fevereiro de 2022, rejeitou o plano de vitória, afirmando que Kiev deve “acordar”. Moscou exige que o país desista do território que suas tropas já controlam no leste e no sul da Ucrânia como pré-condição para negociações de paz. Ao todo, Moscou assumiu o controle de quase 20% do território ucraniano desde o início da invasão.
“O único plano de paz possível é que o regime de Kiev compreenda que sua política carece de perspectiva e é necessário que acorde”, declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.